Ainda a política
“…Alheados dos partidos políticos mas não da vida política…”, assim se apresentavam os fundadores da Seara no seu primeiro editorial. A política, os partidos políticos, os políticos, questão fundamental do nosso tempo, questão fundamental para o homem civilizado e empenhado no incremento civilizacional, mas… ainda questão maldita! Questão maldita que arrasta com ela a virtuosa democracia! A democracia que todos defendem, que todos exaltam, mas que muitos simplesmente a suportam mas que a liquidariam – e a liquidam – se os que sinceramente a defendem se distraírem em questiúnculas menores que só a enfraquecem.
A mudança das estruturas económicas, sociais, culturais quer se processem de forma mais ou menos revolucionária mais ou menos reformista, carregam sempre consigo uma marca política. O “homo faber”, “o homo politicus” é cada vez mais o homem informado, o homem crítico, o homem consciente dos seus actos, da consequência dos seus actos! Actos que, com maior ou menor peso, praticados de forma mais ou menos consciente, acabam por influir no meio em que se produzem e na decisão politica.
Estamos, por isso, por muito longe que estejamos dos chamados centros de decisão, sujeitos, subordinados, ao poder político, às leis e às políticas que decorrem do seu exercício.
Sujeitos, subordinados, mas não impedidos de defender as nossas ideias por muito contrárias à política dominante e consequentemente às suas leis mesmo em tempo de excepção democrática, como já ocorreu no nosso país.
Em todos os lugares, mesmo nos mais inóspitos, é comum a todo o ser humano o sentimento, a vontade, a ânsia de liberdade. Vontade e ânsia que nos permite continuar a acalentar a esperança numa sociedade democrática de justiça e de bem-estar. Sabemos que há muito tempo homens bons e esclarecidos “desenharam” esta sociedade, Aristóteles falava da VIDA BOA e sabemos que por vezes se julgou estar perto de a alcançar. É preciso conhecermo-nos melhor – Sócrates -, conhecermo-nos melhor para poder identificar os factores impeditivos de construir o caminho capaz de nos conduzir a uma plataforma, uma plataforma de sólido entendimento, especialmente entre os que nada tendo a perder, só teriam a ganhar com a construção de um programa político comum, entendimento assumido livre e conscientemente de modo a conferir a esse programa a necessária consistência para ser sufragado com êxito! Não podemos repetir mais experiências que, de auroras para iluminar os novos tempos, caíram no mais negro dos crepúsculos.
É preciso, é indispensável, é essencial, que aqueles que são adeptos da democracia cuidem de exercer os seus actos de forma a não dar terreno, condições mínimas, àqueles que pretendam fazer singrar quaisquer projectos que, apoiados naquela, a querem reduzir a instrumento de prossecução dos seus interesses individuais e de classe a que sujeitarão a sociedade, nomeadamente fomentando os conflitos e a guerra. Em Portugal, os últimos anos deram-nos fundadas esperanças na possibilidade de encontrarmos o caminho tão ansiado e que acreditamos possível. Assim a BOA ENERGIA que a tal conduziu não esmoreça! Temos aí uma palavra a dizer e muito a dar!
Perto de chegar aos 100 anos de existência, a Seara, fiel aos propósitos dos seus fundadores, reitera os seus princípios procurando contribuir para a difícil tarefa de unir na acção pensamentos e ideias diversas, cujo sentido vá na consolidação da democracia através de políticas que promovam de forma consistente a justiça e o bem-estar social.