Tribuna Pública – “A propósito de um acontecimento político”

Em 26 setembro, como em Portugal, realizaram-se eleições autárquicas na Áustria

«Uma candidata comunista venceu as eleições municipais em Graz, a segunda maior cidade da Áustria, realizadas este domingo, uma vitória que é, segundo a própria eleita, “mais do que surpreendente” face à fraca expressão do partido no país.

Segundo os resultados preliminares, a candidata do partido comunista austríaco KPÖ, Elke Kahr, de 59 anos, obteve 29,1% dos votos, contra o candidato conservador Siegfried Nagl do Partido Popular Austríaco (ÖVP), no cargo há 18 anos, que alcançou 25,7% dos votos.

As sondagens locais não anteciparam este resultado para os comunistas austríacos e, segundo a candidata em declarações aos jornalistas, o feito “é mais do que surpreendente”.

“Alguns fazem promessas algumas semanas antes das eleições. Nós estamos presentes todos os dias e durante anos pelas pessoas, especialmente pelos mais pobres”, argumentou Elke Kahr para justificar o resultado eleitoral.

“Defendo absolutamente uma visão de mundo e uma sociedade que une, e não divide.” …

Em Graz, cidade que conta com mais de 220.000 eleitores, é frequente o partido comunista austríaco obter resultados eleitorais satisfatórios, em contraste com o resto do território austríaco, onde a força partidária é quase inexistente. …

“O apoio – crescimento de oito pontos percentuais nesta eleição em comparação com a anterior – deve-se a anos de dedicação do KPÖ à comunidade de Graz, com enfoque nas questões locais, especialmente a política habitacional.

A falta de habitação e os altíssimos preços dos aluguéis são um tema que ganha cada vez ganha mais destaque nas discussões na Áustria e em outros países europeus.

Em Graz, o KPÖ levanta a bandeira e trabalha em prol dos inquilinos desde a década de 1990, tendo criado uma linha telefônica de emergência para socorrer inquilinos com problemas com os proprietários.”»

Dos jornais

Poderíamos dizer assim que, afinal, a ideologia comunista, os comunistas, ainda têm quem os oiça, quem os siga, quem acredite neles mesmo em paragens onde menos seria de esperar.

Lá como cá, o caminho não está fechado.

Claro que não é um caminho fácil, muito pelo contrário. Mas é preciso acreditar que é possível vencer essas dificuldades por muito intransponíveis que elas pareçam.

São as questões sociais, habitação, trabalho, assistência na saúde, educação e as culturais o campo, dir-se-ia tradicional, e por isso, para as quais deveriam, naturalmente, estar vocacionadas as forças que, em geral, se referenciam como forças de esquerda.

Há, portanto, lugar, e condições, para o desenvolvimento com sucesso da ação dessas forças.

Há que afirmá-lo, e reafirmá-lo, até à exaustão!

Não chegámos ao fim da história. A inteligência humana não regrediu, o caminho continua aberto. Ou, melhor, a possibilidade de traçar e abrir caminho continua nas mãos dessas forças, como afinal de todos os homens.

Está nas suas, nossas, mãos, servidas por uma inteligente, exigente e constante, análise dos fatores que, apesar de evidentes, persistem, ganhando mesmo, apesar da sua natureza reconhecidamente injusta, quando não desumana mesmo, mais força. Tanta mais força quanto mais demorar o necessário processo de reformulação dos meios e dos métodos de atuação das forças de esquerda.

Não estão em questão, por desatualizados ou ultrapassados, os princípios que enformam tais forças. Não é, com certeza, aí que reside a causa da sua perda de influência, de militância ou de combatividade. Antes pelo contrário.

Que faltará então?

O que falta, parece-nos, é encontrar o modo de contornar os fatores de bloqueio, recuperar a credibilidade, criando assim as condições para o romper!

E, porque estamos a celebrar o centenário da Seara, nunca será demais lembrar a força que moveu os seus fundadores, afinal não mais que a força dos que acreditam nas virtudes humanas. Dos que, conscientes da permanente mudança que acompanha o andar do mundo, se esforçam por apreender os seus mecanismos e construir e reconstruir permanentemente as respostas necessárias. Combatendo o oportunismo, o menor rigor, quando não o falseamento – os fins justificam os meios – os “esquemas”. Será na integridade, na verticalidade, na transparência dos propósitos, que a esquerda, cremo-lo firmemente, se reerguerá e cumprirá a sua “missão”. A sua insigne e nobre, entre as mais nobres, tarefa. Lutar por uma sociedade pacífica, justa, fraterna, de homens livres e iguais.

Simples?