Cinema – “Mães Paralelas”
A filmografia de Almodóvar desenvolve-se em ciclos de vida, onde pode aparecer o pecado, a prevaricação, a culpabilidade, a revolta, mas também o amor, a alegria e por vezes a compaixão.
Neste filme acontece que duas mulheres grávidas se conhecem num quarto duma maternidade. Janis (Penélope Cruz) de 40 anos, fotógrafa de sucesso, engravidou acidentalmente de Arturo, um arqueólogo seu amigo. Ana (Milena Smit) uma adolescente à procura de si própria, ficou grávida numa festa de muitos copos com amigos.
As duas mulheres dão à luz duas meninas no mesmo dia e no mesmo momento, o que vai ligá-las para sempre. Haverá partilha de vida em comum, separações, zangas, mas o laço que as une às crianças é inquebrável.
Arturo não se esquece do pedido de Janis e vai ajudá-la a encontrar os restos mortais do seu bisavô, assassinado, entre outros companheiros, pelas tropas franquistas durante a guerra civil espanhola.
Para além da história binária o filme questiona a importância da filiação e das suas raízes.
Entre um grupo de mulheres em marcha lenta e silenciosa, que empunham os retratos dos familiares desaparecidos, Janis e Ana vão tomar consciência de que a memória é essencial. O caminho em que assentam os seus passos já fora percorrido pelos seus avós durante os tempos cruéis da guerra. E assim continuará com as suas descendentes.
A encenação esplendorosa, como sempre, envolve em suave melancolia esta história de reflexões perturbantes.
«Mães Paralelas» é um belo filme, amplamente elogiado pela crítica internacional.