Vontade política
No Editorial anterior afirmámos, a determinado momento: «Agora, com maioria absoluta, o PS, assim o queira, apoiado nos seus princípios, tem condições para realizar uma política de esquerda que, desde a economia à cultura, passando pela saúde, habitação, trabalho, etc., dê uma efectiva resposta às questões que, há muito, esses setores colocam. Prestaria assim um serviço inestimável à democracia, calando as vozes dos inimigos do socialismo que, intencional e malevolamente, classificam de socialistas todas as políticas que, invariavelmente, o PS tem vindo a seguir.»
Alguns dos nossos amigos e leitores ter-se-ão interrogado quanto a esta ingénua crença no PS.
Não se tratava, claro, de qualquer crença e muito menos de ingenuidade, mas de formular uma possibilidade. Uma possibilidade que só não se traduziu em medidas práticas por uma evidente falta de vontade política!
A vontade política necessária para fazer o que se promete, o que se anuncia.
Vontade política que, não existindo e ainda agravada por alguma, quando não enorme, incompetência, para gerir os problemas, começando pela falta de uma séria avaliação dos factores que os geram, não permite a tomada das medidas adequadas à resolução dos inúmeros e diversos problemas com que nos confrontamos.
Ao contrário do que, ao defender o seu OE como receita eficaz para responder a todos os problemas, aí está a realidade a revelar a fragilidade, a falta de sustentabilidade das afirmações proferidas.
Entre outros aí temos o sector da saúde a demonstrar a discrepância entre o discurso e a realidade. Aí está, de forma evidente, a falta de vontade política.
Falta de vontade política claramente evidenciada na recusa em, face à escalada dos preços, nomeadamente dos bens de primeira necessidade, em proceder a alguma revisão de salários e pensões de forma a atenuar o agravamento das condições de vida da população, nomeadamente dos mais carenciados, cada vez mais atirados para a pobreza.
Com esta falta de vontade política evidenciada não há “bazuca” que nos salve. Não é esta a forma de fazer política de que Portugal necessita. Não foi com certeza para isto que a grande maioria dos portugueses votou em 30 de Janeiro deste ano.