Nota de Leitura – “Do Solidariedade ao Afeganistão – Quatro décadas de vida de repórter”

Carlos Santos Pereira, jornalista, repórter, de reconhecida competência e idoneidade, falecido em 22 de Maio de 2021, é agora, um ano após a sua morte, por iniciativa de um grupo de amigos, lembrado, em jeito de homenagem, através da compilação de 45 textos por ele escritos e publicados em diversos Jornais e Revistas, no livro: Do Solidariedade ao Afeganistão publicado pelas Edições Colibri.

Livro que conta com um prefácio da prestigiada jornalista Diana Andringa, sua compagnon de route, e do qual transcrevemos, por serem demonstrativos da elevada consciência com que tratava os problemas inserindo-se na realidade onde os mesmos ocorriam, alguns extratos.

«Os Balcãs foram ainda, para Santos Pereira, razão de um outro trauma, premonitório, e que talvez a realidade atual nos permita compreender melhor:

“Acho que ainda hoje não temos bem consciência de quanto se jogou ali como laboratório para ensaiar estratégias mediáticas novas que se desenharam ali. Pode-se escrever uma história da evolução da comunicação, do fenómeno da comunicação, de todos os pontos de vista, dos jornalistas, dos ‘spin doctors’, dos ‘new managers’, por aí adiante, em termos militares também, e sobretudo em termos da vastíssima – e tão discreta que não nos apercebemos bem dela – recomposição geopolítica que ali se deu.”

E referindo a sua longa experiência, sublinhou: “Não me lembro de uma ocasião em que se mentiu tanto, se aldrabou tanto, se forjou tanto. (…) Em que se manipulou e adulterou tanto e se conspurcou de forma vergonhosa os valores mais sagrados em que todos nós nos podemos reconhecer: Direitos Humanos, respeito pela vida humana, respeito pela verdade. (…) Mobilizaram-se organizações internacionais de toda a parte, biliões e biliões de dólares, sacaram-se, manipularam-se, adulteraram-se os valores em qualquer ser humano (…) Tudo isso aldrabado para conseguir meia dúzia de objetivos estratégicos ali.”»

Escreveu, Carlos Santos Pereira, na Revista de Ciências Militares, Vol. II, nº 2 de Nov de 2014:

«A realidade de uma Ucrânia independente sempre foi dura de engolir em Moscovo. Por razões de ordem estratégica, de segurança e económicas e ainda por motivos emocionais e de identidade. É assim, em última análise, em torno da Ucrânia que se vai travar o confronto entre o Ocidente e uma Rússia ressurgente, sobretudo a partir do início da expansão da NATO a leste no final dos anos 1990.»

Carlos Santos Pereira foi um colaborador da Seara Nova (números, 64 – Abril/Maio/Junho 1999, 65 – Julho/Agosto/Setembro 1999, 66 – Outubro/Novembro/Dezembro 1999, 1708 – Verão 2009 e 1753 – Inverno 2020. Podemos dizer, sem exagero, que foi um dos poucos jornalistas que, face aos condicionamentos que hoje se abatem sobre estes profissionais, conseguiu encontrar formas de, não se marginalizando, não desistindo, afirmar e prestigiar uma tão fundamental função da nossa sociedade, a Comunicação Social!

Um livro, por isso, importante nos tempos atribulados em que vivemos.