Poesia – “Prece no Mediterrâneo”

Em vez de peixes, Senhor,

dai-nos a paz,

um mar que seja de ondas inocentes,

e, chegados à areia,

gente que veja com o coração de ver,

vozes que nos aceitem.

 

É tão dura a viagem

e até a espuma fere e ferve,

e, de tão alta, cega

durante a travessia

 

Fazei, Senhor, com que não haja

mortos desta vez,

que as rochas sejam longe,

que o vento se aquiete

e a vossa paz enfim

se multiplique

 

Mas depois da jangada,

da guerra, do cansaço,

depois dos braços abertos e sonoros,

sabia bem, Senhor,

um pão macio,

e um peixe, pode ser?

do mar

 

que é também nosso

 

in Ágora, Assírio & Alvim, 2019