Política, essa nobre função

«A Seara Nova quere transformar esta Republica, até agora quási completamente dominada pelo poder do dinheiro, num regime dirigido pela força das ideias. Quere substituir a política dos interêsses oligárquicos por uma política de interêsses colectivos. Quere afirmar que o maior privilégio dos «chefes» deve consistir na energia e na inteligência postas ao serviço do bem comum.»

Raul Proença, Seara Nova nº 2, pg. 63, 5 de Novembro de 1921

Mudar.

Mudar o quê, quando, porquê?

Se em cada um de nós a questão da mudança, embora sempre difícil, parece ser um problema de relativa fácil solução, mudar ao nível de um grupo, duma sociedade (cidade, país) o assunto complica-se, complexifica-se.

É a vez da política, das políticas.

Política e políticas que, como a vida, ao ritmo da vida, mudam, adequam-se, adaptam-se.

Política e políticas que em democracia estão sujeitas ao sufrágio universal periódico, mas que no decorrer dos períodos de vigência dessa decisão não podem ficar imunes à evolução dos factores que determinaram essas políticas.

Não se muda de política como se muda de vestido, mas…

Os portugueses sufragaram, nos XXIII governos constitucionais, os respectivos programas políticos que os diversos partidos que apoiaram esses governos lhes propuseram.

Promessas de mudança, de resolução dos graves problemas que vêm afectando os diversos sectores da vida nacional, não passaram, em grande parte, disso mesmo: promessas, meras promessas.

Quem sofre com tal ineficácia governativa? Primeiro o povo, o povo que livremente “escolheu” esses governos, depois a política!

A política, essa nobre função, o mais importante instrumento para a concretização dos naturais anseios de uma eficaz exploração dos recursos naturais e humanos do país e a consequente, equitativa e equilibrada, distribuição fazendo cumprir os lemas já há dois séculos proclamados pela Revolução Francesa: Liberdade, Igualdade, Fraternidade, a política, como dizíamos, não está assim a merecer desses governantes, apesar dos seus juramentos, o necessário empenhamento e dedicação.

A economia, melhor, o poder económico e financeiro, continuam assim a navegar livremente em mares pouco agitados podendo até continuar a dar-se ao luxo de exibirem alguns dotes de humanidade, subsidiando, apoiando e criando instituições de natureza social e até cultural!

Apesar da legitimidade, via voto popular, das políticas, ineficazes, seguidas, tem o povo, os trabalhadores, o poder que os direitos constitucionais lhe garantem, de contestar as políticas seguidas, reivindicando mudanças, o que aliás o tem vindo a fazer ao longo dos anos, mesmo quando a ditadura fascista exercia sobre eles a mais feroz repressão.

Mudar é preciso, mudar, ouvindo o povo, os trabalhadores, as diversas forças que se manifestam na sociedade, incansavelmente, quotidianamente.