50 anos do acordo de paz Vietname/EUA

A 27 de Janeiro de 1973 foi assinado o Acordo de Paz de Paris, que levaria ao fim da guerra entre os EUA e o Vietname. A guerra iniciou-se em 1959, mas os EUA só se envolveram no conflito em 1961.

Em 1967 a Seara Nova tinha publicado, a propósito deste conflito, o livro «Bombas sobre Hanói», do jornalista australiano Wilfred Burchett, com tradução de Maria Helena da Costa Dias.

Na edição da Seara nº 1529, de Março de 1973, num artigo do jornalista Albano Lima intitulado «Vietname: Recursos de Thieu», lia-se:

«Tem-se pretendido inculcar que a intervenção americana no Sueste asiático, e mais particularmente na Indochina, foi um erro. Dentro da melhor tradição idealista, esse erro viria a redundar em tragédia. É o melhor rastilho para a explosão do moralismo. É a forma menos grosseira de inculcar que a retirada das tropas americanas é um reconhecimento desse erro e não o resultado de uma política global condenada ao fracasso.»

E mais à frente: «Ter-se-ia lutado então pela paz que um acordo de cessar-fogo não pode garantir? Uma paz tem de assentar em alguma coisa. Doutro modo, não valeria a pena conquistá-la. Como os americanos não conseguiram pacificar, nem vietnamizar, nem arrasar, em que é que assenta a «paz com honra» de Washington? Nos mortos. O resto é o prestígio da marca a defender, o prestígio do «slogan» e, quando muito, a promessa de arrepiar caminho.»

E mais adiante: «A reunificação pacífica do Vietname consta do espírito e da letra dos acordos de Genebra de 1954 e, a priori, ninguém poderia afirmar que essa reunificação, sob um governo democrático, tivesse forçosamente de ser feita pelas armas. As armas foram os americanos que as impuseram. (…) as dúvidas que restarem podem aclarar-se facilmente pela consulta de uma simples cronologia dos acontecimentos mais importantes da guerra do Vietname.»

Na edição seguinte, nº 1530, de Abril de 1973, era publicado o texto integral do acto final da Conferência de Paris, assinado pelos doze ministros dos Negócios Estrangeiros, dos governos da República Francesa, da República do Vietname do Sul, da República Popular Húngara, da Polónia, da República Democrática do Vietname, do Reino Unido, da República do Vietname, da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, do Canadá, da República Popular da China e dos Estados Unidos da América, na presença do secretário-geral das Nações Unidas.

Em Abril de 1973 as tropas norte-americanas regressam a casa – mas como as cláusulas políticas do tratado não foram cumpridas, a luta não parou verdadeiramente, prolongando-se até Abril de 1975, com a rendição das forças de Saigão.

Morreram no conflito pelo menos 1,1 milhão de vietnamitas, entre civis e soldados (algumas estimativas falam em 3 milhões de mortos) e mais de 58 mil soldados americanos. Outros países também sofreram baixas: foram mortos, por exemplo, mais de 4 mil soldados sul-coreanos.

Entre as diversas armas utilizadas foi utilizado o “agente laranja” – substância química jogada pelas tropas americanas no solo para destruir plantações agrícolas e desfolhar florestas usadas como esconderijo pelos inimigos, que causaram danos, malformação de crianças e contaminação, com efeitos que duram até hoje.