Ainda a Democracia

A nossa democracia, a nossa democracia constitucional, saída do heroico acto, nunca será demais dizê-lo, dos capitães de Abril, se considerarmos a data da entrada em vigor da Constituição, 25 de Abril de 1976, a nossa democracia constitucional, dizíamos, já entrou no seu 48º ano.

Quase meio século!

Quase meio século de esperanças frustradas, de esforços vãos, de recursos desbaratados, de atropelos das leis, nomeadamente da lei primeira, a Constituição.

Mas houve as Conquistas de Abril! Conquistas históricas. Históricas pela sua importância, históricas porque muitas delas já “passaram à história”, ou seja, “passaram à história” considerando a forma como, entretanto, foram sendo desvirtuadas.

Resta-nos, porém, a, de todas, mais importante, a Liberdade!

Temos a Liberdade, temos a Democracia, agora, desde o 25 de Abril de 1976, tudo é feito democraticamente. Até temos um Tribunal Constitucional.

Mas o fado, o nosso eterno fado, é a ineficiência, a ineficácia, das medidas e das políticas.

O que falta então?

Políticos? Intelectuais (artistas, cientistas)?

Acção! Participação activa!

O que falta é acção. Acção inteligente, patriótica, empenhada, livre de sujeições às forças da exploração vil da força dos que para sustento seu e daqueles que deles dependem lhes vendem o seu único recurso, a sua mão de obra!

Acção unida e organizada dos que a este flagelo bem presente ainda neste nosso tempo, neste nosso tempo cada vez, e a todos os dias, mais dotado de conhecimento, de instrumentos e ferramentas novas capazes de produzir mais bem-estar.

Acção unida e organizada, criando iniciativas, propostas, projectos que abram o caminho a um entendimento livre de preconceitos de sectarismos, de verdades absolutas. A bem do povo! A bem do país, honrando a memória daqueles que, privados da liberdade de que hoje dispomos, lutaram por ela, essa tão fundamental Liberdade, corajosamente até ao sacrifício da própria vida.

Acção que atenda à realidade e ao seu aspeto fundamental, a sua constante mutabilidade. Mutabilidade fruto fundamentalmente das nossas acções. Enfim a dialéctica da história.