Coragem e determinação no presente e no futuro

São inquietantes os dias de hoje em Portugal e no Mundo. As economias estremecem, as democracias degradam-se e as sociedades são cada vez mais marcadas por profundas assimetrias, que alargam o fosso entre as riquezas fabulosas de uns tantos e a miséria de milhões. No contexto da realidade portuguesa, o ano de 2024 foi assaz fértil em acontecimentos. Comemoram-se, por todo o País. os 50 anos da Revolução dos Cravos, demostrando-se, com toda a evidência, a actualidade do 25 de Abril e que os seus ideais e valores conquistam indelevelmente as novas gerações.

No entanto, houve porém, quem, em gritaria histérica, pretendesse, com evocação solene do contragolpe 25 de Novembro, ajustar contas antigas e, diminuir o alcance histórico da Revolução do 25 de Abril, bem como as profundas transformações politicas, económicas e culturais, dela decorrentes.

Noutro plano, diremos que no ano que agora termina se realizaram eleições legislativas na sequência da demissão do primeiro-ministro e dos “casos e casinhos” que, falsos ou verdadeiros, corroíam por dentro a acção do governo de maioria absoluta do Partido Socialista. Estas eleições deram, como se sabe, a maioria à direita, com substancial aumento da votação no partido da extrema-direita, fascista, caceteira e revanchista, que passou a terceiro partido no espectro político português.

No entanto, as diversas direitas mostraram-se desavindas. São conhecidas as peripécias da eleição do Presidente da Assembleia da República e o processo da aprovação do Orçamento de Estado, naturalmente, com os votos do partido do governo e a abstenção do partido da extrema-direita. O Orçamento de Estado mereceu também a abstenção do Partido Socialista, ao mesmo tempo que, fazendo “voz grossa” se distanciou do partido governamental.

Haverá certamente quem considere haver exagero nestas linhas. Porém, a aparente mudança de rumo do ponteiro da história parece dar razão a todas as cautelas. Por exemplo, basta ter presente o comportamento do partido da extrema-direita no Parlamento. Barafusta, grita e ameaça os seus adversários políticos e garante, com o dedo apontado aos deputados da esquerda, que irá “fazer limpeza na classe política”. Ou então lembrar as indecorosas sarjas negras, colocadas nas janelas da Assembleia da República para se poder compreender os propósitos da extrema-direita portuguesa.

O que aconteceu na Assembleia da República, no passado dia 9 de Dezembro, é de extrema gravidade, embora haja uns quantos comentaristas políticos que achem que tudo não passou de uma “infantilidade”, um acto de “vandalismo do património nacional” ou uma mera “arruaça” de gente “mal educada”. Porém, o que ali se passou é a expressão nua e crua das pulsões fascizantes de uma extrema-direita, que sente em seu redor um ambiente capaz de animar comportamentos cada vez mais intoleráveis.

O que se passou foi uma clara operação fascista, animada pelo acolhimento de concepções fascistas e reacionárias, bem como, a permissividade ou o incentivo de outros. que por aí fervilham nas televisões, jornais e noutros órgãos de comunicação social.

Para concluir, julgo justificarem-se umas palavras mais, para referir que, sendo o ano de 2024 comemorativo dos 50 anos do 25 de Abril, impõe-se destacar a importância dos Congressos Republicanos, realizados na cidade de Aveiro, especialmente o terceiro Congresso que teve lugar entre 4 e 8 de Abril de 1973 e cujas conclusões foram colhidas pelo programa político do Movimento das Forças Armadas – MFA. O fim da guerra colonial, a luta contra o poder absoluto do capital, a conquista das liberdades democráticas foram objectivos em grande medida alcançados pela Revolução do 25 de Abril e mantêm plena actualidade como expressão mobilizadora da sociedade portuguesa, que no entanto não devem fazer esquecer objectivos mais altos, sabendo nós que uma revolução democrática, é sempre uma revolução inacabada…

Assim, os herdeiros do pensamento seareiro sejam capazes de projectar no presente e no futuro os ideais da Revolução de Abril, para a qual, a Seara Nova e os Congressos Republicanos, com coragem e determinação, fomentaram e de alguma forma anteciparam.