1921 - 2021

Origens

espírito seareiro

PRIMEIRO EDITORIAL

“A SEARA NOVA representa o esfôrço de alguns intelectuais, alheados dos partidos políticos mas não da vida política, para que se erga, acima do miserável circo onde se debatem os interêsses inconfessáveis das clientelas e das oligarquias plutocráticas, uma atmosfera mais pura em que se faça ouvir o protesto das mais altivas consciências, e em que se formulem e imponham, por uma propaganda larga e profunda, as reformas necessárias à vida nacional.Não comunga ela no vão e pernicioso sofisma de que são os políticos os únicos culpados da nossa situação. A verdade é que os políticos não são melhores nem piores do que o permitem as condições gerais da mentalidade portuguesa. Todo o país tem de aceitar a responsabilidade que lhe cabe no desastre colectivo; todo o país, e em especial a sua élite. A vida política duma nação é, em grande parte, o reflexo da sua vida intelectual, dos seus movimentos de ideas, das aspirações mais profundas do seu escol. Por outro lado nenhum regímen político de mentira e incompetência se pode manter em qualquer país sem que essa incompetência e essa mentira sejam os característicos dominantes da sua própria élite intelectual. De outra forma, as monstruosidades e as traficâncias impedi-las hia o seu protesto organizado. Em última análise, é ela a maior responsável, porque constitui aquela parte da consciência duma nação que deveria ser a última a desfalecer ou a corromper-se. (…)”

Seara Nova n.º 1, de 15 de Outubro de 1921

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PORQUE NÃO SOMOS UM PARTIDO POLÍTICO

Em 1907 inicia a sua carreira literária escrevendo de parceria com José Ferreira da Silva, «A Filha do Jardineiro», obra de ficção de propaganda republicana e de crítica às figuras do regime.Nesse mesmo ano é preso, acusado de anarquista na sequência de uma explosão no seu quarto em Lisboa, evadindo-se no ano seguinte. Em 1927 participa na revolta de 7 de fevereiro em Lisboa e exila-se em Paris e no fim do ano regressa clandestinamente. Em 1928 participa na revolta de Pinhel, é preso, evade-se e regressa a Paris. Em 1929 é julgado à revelia em tribunal militar e condenado. Em 1931 vai para a Galiza voltando a Portugal clandestinamente em 1932. Em 1933 recebe o prémio Ricardo Malheiros da Academia das Ciências de Lisboa. Em 1935 é eleito sócio correspondente da Academia de Ciências de Lisboa tornando-se sócio efetivo em 1957.Milita no MUD, Movimento de Unidade Democrática, na Campanha Promotora do Voto e nas campanhas de Norton de Matos e Humberto Delgado.

Seara Nova n.º 2, de 5 de Novembro de 1921

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APELO À NAÇÃO

Documento que integra um “Programa governativo de reorganização nacional”Inicialmente subscrito por sessenta e uma destacadas e prestigiadas personalidades dos mais diversos setores democráticos da sociedade portuguesa.“Gravíssima situação do país. – Urgência extrema de se começar a obra de reorganização nacional. – Governação excepcional indispensável, com o apoio e cooperação de todos os portugueses.Cumpre-nos acentuar, primeiramente, que o plano de providências proposto neste apêlo o submetemos a toda a Nação, com o desejo de concorrermos para o seu fortalecimento e prosperidade, sem pretensões a excluir nenhum esfôrço de partidos, colectividades, ou homens que possam e queiram efectivar, ajudar ou apoiar a sua execução. Por outro lado, as pessoas que o assinam não teem espírito messianista; sabem que a Nação é que se ha-de salvar a si mesma; cumpre, porém, que alguém dentro dela tome a iniciativa de exprimir as necessidades e aspirações do País. (…)”

Seara Nova n.º 21, de Fev.-Março de 1923

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Entrada para o corpo diretivo da Seara Nova de António Sérgio

“Tendo-se reconhecido a necessidade duma maior unidade de doutrina e dum contrôle mais eficaz de todos os artigos destinados à publicação, foi decidido pelos membros do grupo Seara Nova que i número dos directores desta revista se reduzisse ao estritamente indispensável. Ficou, pois, êsse grupo constituído por todos aqueles que poderiam consagrar à Seara Nova um esfôrço mais contínuo, os antigos directores Câmar Reis, Faria de Vasconcelos, Jaime Cortesão e Raúl Proença, a que se junta hoje o nome cheio de prestígio do espírito mais lúcido, mais penetrante e mais sólido da moderna geração, o homem que, nos seus admiráveis Ensaios de 1919, fez a crítica do pensamento nacional, o inventário das nossas mais perigosas ilusões e das nossas mentiras mortais, o processo minucioso da decadência do nosso escol, e marcou algumas das directrizes fundamentais da reforma a realizar. Não podemos ocultar que essa adesão preciosíssima representa o maior triunfo ainda obtido pela Seara Nova. (…)”

Seara Nova n.º 22, de Abril de 1923

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A ÚNIÃO CÍVICA E A “SEARA NOVA”

Texto de clarificação da orientação da Revista da autoria de Raúl Proença intitulado: A União Cívica e a “Seara Nova” – Definição da nossa atitude. Resposta às objecções fundamentais.“Os membros do grupo Seara Nova teem revelado, sôbre os problemas sociais e políticos, ideas e tendências próprias. Nunca êles ocultaram as suas simpatias pelo socialismo objetivo e realista, um socialismo sem alienações nem pressas febris, que não desconhece a natureza humana, o carácter forçosamente evolutivo das transformações sociais, que é animado acima de tudo pelo desejo de pôr termo à anarquia económica e de realizar uma ordem mais perfeita. Nunca em caso algum êles renegariam essa atitude, que foi afirmada desde os primeiros números desta revista. Mas não os impede isso de ser portugueses, e de desejar, acima de tudo, o bem estar da pátria comum (…)”Raul Proença

Seara Nova n.º 22, de Abril de 1923

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ESPÍRITO SEAREIRO

Seara Nova desenvolveu, desde a sua fundação em 1921 até ao final da década de setenta, um excepcional trabalho cívico, cultural e pedagógico centrado na necessidade de (re)descoberta do elemento social da democracia, na definição da verdadeira identidade das elites intelectuais, na actualização de soluções para os problemas estruturais da sociedade portuguesa, cujo diagnóstico sistemático não foi das suas menores preocupações.Foi um lugar de síntese de diferentes preocupações e foi-o, pode dizer-se, desde o início, como poderemos concluir do notável grupo que lhe dá origem e que uma célebre fotografia imortalizou: do activo militante republicano Jaime Cortesão, futuro grande historiador com participação determinante no esgotado movimento da Renascença Portuguesa e da revista A Águia, ao politicamente discreto, mas presente, Raul Brandão, à escuta das grandes vozes de mistérios e fantasmas; do romancista Aquilino Ribeiro, revolucionário de armas na mão cujo exílio parisiense integrara em correntes avançadas da literatura, das artes e do pensamento, ao filósofo Raul Proença, sem esquecer Teixeira de Vasconcelos e Câmara Reis, - detecta-se na fundação de Seara Nova uma conjugações de preocupações cuja síntese - ou, para sermos mais precisos, cuja harmoniosa conjugação de diferenças - haverá de constituir a própria identidade da revista.António Pedro Pita

In "Seara Nova: Razão, Democracia, Europa" Campo das Letras, Outubro de 2001

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