O Centenário da Revolução de Outubro, acontecimento marcante de viragem na história dos tempos modernos, sequência da “fúria do mar” da Grande Revolução Francesa de 1789 e do “assalto ao Céu” da Comuna de Paris de 1870, foi comemorado, ou recordado, em 2017, um pouco por todo o Mundo.
Revolução de Outubro, mais do que apenas Revolução Russa, dado o alcance planetário das ideias que foram a sua matriz e que viriam a influenciar todo o “género humano” saudado no refrão de “A Internacional”.
Cientes da lição que, na Rússia das almas mortas, lhes haviam proporcionado as profundas convulsões políticas, sociais e culturais ocorridas no século XIX, os revolucionários de Outubro propuseram-se a tarefa de enfrentar a questão essencial: não apenas explicar o Mundo mas, fundamentalmente, tranformá-lo.
Não será excessivo afirmar que muito do que, de mais positivo, ditou a marcha da Humanidade, no século XX, teve o selo do ideário da Revolução de Outubro, acontecimento histórico que, pense-se a seu respeito o que se pensar, continua e continuará a marcar a actualidade, visando os mesmos objectivos que, no fundamental, radicam na condição humana, na libertação do Homem dos seculares bloqueios que o desumanizam, e para cuja prática, na Rússia do primeiro quartel do século XX, a Revolução de Outubro deu o sinal decisivo.
Com o propósito de uma Revolução, não de uma simples revolta, os revolucionários de Outubro quiseram lançar à terra a semente da transformação do Mundo, apostados em começar de raiz, que é onde tudo começa, no caso a questão do poder e a questão do Estado. Com esses instrumentos de acção desenvolveram todo o imenso projecto que abalou o Mundo, e cujos efeitos em boa parte se mantêm. Sem essa aposta não teria sido possível criar e desenvolver a URSS, não teria sido possível derrotar o nazi-fascismo, na Segunda Guerra Mundial, não teria sido possível alcançar a libertação dos povos colonizados e dos seus colonizadores – como foi o caso de Portugal com a Revolução de 25 de Abril -, não teria sido possível à Mãe Rússia atingir o extraordinário progresso técnico, científico e cultural que, entre o mais, lhe permitiu participar, com o êxito conhecido, na conquista do espaço. Sem todos esses avanços não teria sido possível a intransigente defesa da Paz, prioritária causa comum de toda a Humanidade, a defesa dos direitos dos trabalhadores, a emancipação das mulheres, e tantas, tantas outras conquistas que hoje integram, com naturalidade, o nosso quotidiano.
E se é certo que essas grandes causas não foram apenas causas e obra da Revolução de Outubro, não é menos verdade que, as suas conquistas não teriam sido possíveis, ou talvez sequer imagináveis na dimensão que alcançaram, sem esse grande acontecimento histórico que é, desde então, pertença e património da Humanidade.
Levy Baptista
(1935)
Advogado. Deputado à Assembleia Constituinte pelo MDP/CDE (Movimento Democrático Português/Comissão Democrática Eleitoral). Jurista. Executivo da CNS Presos Políticos. Director da revista Seara Nova (2012-2019)