Cinema – “J’accuse – O Oficial e o Espião”

Realizador: Roman Polanski Intérpretes: Jean Dujardin, Louis Garrel, Emmanuelle Seigner, Grégory Gadebois e muitos actores da «Comédie Française». (França/Itália, 2019)

O caso Dreyfus foi o maior escândalo judiciário do séc. XIX e, segundo os vindouros, a maior vergonha de França.

Em Paris, no Boulevard Raspail, junto a uma antiga universidade, ergue-se uma pedra granítica a assinalar o local onde existiu o antigo tribunal militar que condenou Dreyfus tão injustamente.

Roman Polanski é um dos maiores realizadores do cinema mundial, autor de filmes de referência, tais como O Pianista, inesquecível, Repulsa, O Escritor Fantasma, entre muitos outros.

O cineasta inspirou-se no livro de Robert Harris, «O Oficial e O Espião», para abordar o drama do oficial Alfred Dreyfus, judeu, que foi acusado de espionagem a favor da Alemanha, em 1894.

Expeditivamente julgado, foi condenado a prisão perpétua na ilha do Diabo (Guiana Francesa).

O exército, onde faziam carreira membros da élite da sociedade, detinha grande poder, usufruindo de privilégios especiais.

Dreyfus não pertencia a esse mundo. Não tinha apoios influentes nas altas esferas.

Quando o tenente-coronel Georges Picquart é nomeado para a chefia do departamento a que pertencera o oficial preso, surpreende-se com o modo como fora conduzido o processo contra Dreyfus e resolve investigar.

Picquart consulta documentos, analisa textos e cartas, consulta especialistas de grafologia e descobre contradições. A espionagem, aliás, continuava a existir na ausência de Dreyfus.

Polanski denuncia as manobras dum governo disposto a tudo para encobrir as suas falsidades: conluios secretos, suborno de grafólogos para mentirem, afastamento de testemunhas essenciais, inclusivamente pelo assassinato, ameaças constantes ao inquiridor, acabando por o expulsar compulsivamente do exército.

Picquart vai encontrar apoio noutros meios. É então que Émile Zola, escritor prestigiado, publica nos jornais o seu célebre texto «J’accuse» pondo a nu o enorme escândalo governamental.

Apesar das represálias (inclusivamente o julgamento e prisão de E. Zola, que teve de pagar uma multa) são apresentados no tribunal provas irrefutáveis da inocência do prisioneiro da ilha do Diabo.

Picquart descobre o verdadeiro culpado, um espião alemão, que as autoridades desinteressadas demoram a prender.

Alfred Dreyfus é libertado, Picquart reintegrado no exército e mais tarde é nomeado 1º Ministro dum novo governo.

Jean Dujardin, na personagem do tenente-coronel é excelente, representando com brio um homem de princípios e valores que corajosamente procura a verdade, resistindo a pressões e sanções. Mas todo o elenco tem uma actuação notável.

Segundo Polanski: «Fazer um filme dá imenso trabalho, pois implica muito esforço, grande energia e esperança com um único objectivo – que o público queira vê-lo».

J’accuse, vencedor do Grande Prémio do Júri do Festival de Veneza, tem tido um grande sucesso e é um êxito de bilheteira.