Cinema – “J’accuse – O Oficial e o Espião”
O caso Dreyfus foi o maior escândalo judiciário do séc. XIX e, segundo os vindouros, a maior vergonha de França.
Em Paris, no Boulevard Raspail, junto a uma antiga universidade, ergue-se uma pedra granítica a assinalar o local onde existiu o antigo tribunal militar que condenou Dreyfus tão injustamente.
Roman Polanski é um dos maiores realizadores do cinema mundial, autor de filmes de referência, tais como O Pianista, inesquecível, Repulsa, O Escritor Fantasma, entre muitos outros.
O cineasta inspirou-se no livro de Robert Harris, «O Oficial e O Espião», para abordar o drama do oficial Alfred Dreyfus, judeu, que foi acusado de espionagem a favor da Alemanha, em 1894.
Expeditivamente julgado, foi condenado a prisão perpétua na ilha do Diabo (Guiana Francesa).
O exército, onde faziam carreira membros da élite da sociedade, detinha grande poder, usufruindo de privilégios especiais.
Dreyfus não pertencia a esse mundo. Não tinha apoios influentes nas altas esferas.
Quando o tenente-coronel Georges Picquart é nomeado para a chefia do departamento a que pertencera o oficial preso, surpreende-se com o modo como fora conduzido o processo contra Dreyfus e resolve investigar.
Picquart consulta documentos, analisa textos e cartas, consulta especialistas de grafologia e descobre contradições. A espionagem, aliás, continuava a existir na ausência de Dreyfus.
Polanski denuncia as manobras dum governo disposto a tudo para encobrir as suas falsidades: conluios secretos, suborno de grafólogos para mentirem, afastamento de testemunhas essenciais, inclusivamente pelo assassinato, ameaças constantes ao inquiridor, acabando por o expulsar compulsivamente do exército.
Picquart vai encontrar apoio noutros meios. É então que Émile Zola, escritor prestigiado, publica nos jornais o seu célebre texto «J’accuse» pondo a nu o enorme escândalo governamental.
Apesar das represálias (inclusivamente o julgamento e prisão de E. Zola, que teve de pagar uma multa) são apresentados no tribunal provas irrefutáveis da inocência do prisioneiro da ilha do Diabo.
Picquart descobre o verdadeiro culpado, um espião alemão, que as autoridades desinteressadas demoram a prender.
Alfred Dreyfus é libertado, Picquart reintegrado no exército e mais tarde é nomeado 1º Ministro dum novo governo.
Jean Dujardin, na personagem do tenente-coronel é excelente, representando com brio um homem de princípios e valores que corajosamente procura a verdade, resistindo a pressões e sanções. Mas todo o elenco tem uma actuação notável.
Segundo Polanski: «Fazer um filme dá imenso trabalho, pois implica muito esforço, grande energia e esperança com um único objectivo – que o público queira vê-lo».
J’accuse, vencedor do Grande Prémio do Júri do Festival de Veneza, tem tido um grande sucesso e é um êxito de bilheteira.