Testemunhos da História – O atraso na abertura da 2ª Frente e como se chegou ao final da 2ª Guerra Mundial
Pretendo referir neste texto alguns dos factos e considerações que, depois de 75 anos sobre o final da 2ª Guerra, ainda são motivo para alguns de desinformação e falsificação históricas.
Os soviéticos terem estabelecido um pacto de não-agressão com os alemães em 1939 (Pacto Molotov/Ribbentrop) resultou de os soviéticos se quererem entender com Hitler para derrotar o Ocidente e não porque as repetidas tentativas da URSS em propor aos aliados pactos de não-agressão terem ficado sem resposta e a obrigaram a aceitar um pacto de não-agressão com a Alemanha para que a URSS se pudesse preparar, em todos os aspectos, para a agressão alemã e para a adiar. A História, de imediato acabou por clarificar esta questão.
Apesar dos insistentes pedidos da URSS para os futuros aliados virem em apoio da luta que ela travava contra o invasor nazi e em apoio das acções dos movimentos de resistência nos países ocupados, em cujas primeiras linhas estiveram resistentes comunistas, combatendo pela liberdade, esses pedidos foram esquecidos desde 1942 até 1944.
O atraso na abertura da 2ª frente na Normandia deveu-se seguramente a que as potências aliadas jogaram com a convicção de que a Alemanha derrotaria primeiro a URSS, o que lhes permitiria derrotar esta depois.
Já antes do início da guerra grandes empresas norte-americanas apoiaram, em diversas frentes, os esforços de guerra dos nazis. Entre as maiores estiveram a IBM, a General Electric, a Coca-Cola, a Nestlé, a Ford, a BMW, os Estúdios de Hollywood, a Hugo Boss, o Chase Bank e a Kodak.
A propósito, o jornal Público está a publicar livros sobre o desembarque na praia de Omaha, da Normandia, em 6 de junho de 1944 com esta afirmação: “Saiba tudo sobre esta heroica operação militar que pôs fim à II Guerra Mundial”. Sobre esta afirmação importa precisar que a 2ª Guerra Mundial não acabou aí. É inaceitável que o jornal, desta forma, pactue com um “erro” grosseiro que a editora dos livros (ainda por cima francesa…) cometeu logo ao anunciá-los!
O início da invasão da União Soviética dá-se em 22 de junho de 1941 (“operação Barbarossa”), com os exércitos hitlerianos a atacarem de surpresa toda a fronteira ocidental da União Soviética. Até aí já 10 países europeus tinham sido derrotados e ocupados em cerca de dois anos: Áustria, Checoslováquia, Polónia, Dinamarca, Noruega, Holanda, Luxemburgo, Bélgica, França e Jugoslávia. A Inglaterra, apesar dos combates aéreos perdidos pela Alemanha, ficou sitiada e sujeita a um bloqueio marítimo pelos nazis.
A luta das forças armadas da URSS e do seu povo foi sofrida. Mas os objetivos nazis foram-se evaporando, um atrás dos outros.
Em dois anos e à custa de milhões de vidas, entre militares e civis, a URSS concluiu uma viragem radical no curso da guerra. A Alemanha, completamente derrotada em 1943, tinha perdido na URSS 1,5 milhões de homens, cinco vezes mais do que todas as perdas sofridas quando da conquista de onze países da Europa Ocidental.
Criaram-se então bases sólidas para uma viragem radical na guerra, sobretudo após as batalhas de Estalinegrado (setembro de 1942 a fevereiro de 1943) e da batalha de Kursk (a maior batalha de tanques da história, de julho a agosto de 1943).
Politicamente, a coligação anti-hitleriana dos estados, por um lado, viabilizou um forte polo de atracção e unidade da opinião pública antinazi e, por outro, mostrou que era possível estados com regimes políticos e sociais diferentes, puderem cooperar estreitamente na luta pela paz, pela democracia e pela independência nacional de países e povos.
Em 1944 os aliados ocidentais, que estavam em vésperas de iniciarem a sua invasão do Norte da França através do Canal da Mancha (os desembarques na Normandia foram adiados de 2 para 5 de junho por causa do mau tempo), encontravam-se também às portas de Roma e bombardeavam os centros industriais e as fábricas de guerra dos alemães, sem lhes darem um dia de tréguas.
Mais de mil bombardeiros ingleses largaram 5 mil toneladas de bombas sobre as principais cinco baterias da defesa alemã. Entretanto, 3 mil navios de sete nacionalidades atravessaram o Canal da Mancha, na “operação Neptuno”. Às 11h55 da noite desse mesmo dia os primeiros soldados da infantaria britânicos da 6.ª Divisão Aerotransportada, pisavam solo francês na aldeia de Bénouville, seis milhas a norte de Caen. A «Operação Overlord» começara.
Na madrugada do dia seguinte, dia 6, conhecido como Dia D, dezoito mil paraquedistas ingleses e norte-americanos foram largados na Normandia para ocuparem pontes decisivas e as linhas de comunicação alemãs. Às 6h30 dessa manhã desembarcaram, na praia de «Utah», as primeiras tropas de tanques anfíbios. Menos de uma hora depois, os primeiros soldados britânicos chegavam às praias «Bold» e «Sword», seguidos na praia «Juno» por 2.400 canadianos em 76 tanques anfíbios.
A “Praia de Omaha” foi um nome de código que se refere a uma seção de 8 quilómetros (5 milhas) da costa da Normandia, na França, de frente para o Canal da Mancha, onde em dias diferentes, e em diferentes praias, se realizaram vários desembarques de tropas de sete países.
À meia-noite de dia 6 já tinham desembarcado 155 mil homens das tropas aliadas.
Por volta da meia-noite de 20 de junho, mais de meio milhão de soldados aliados tinham desembarcado na Normandia. Nas duas primeiras semanas de combate os aliados perderam 40.569 homens.
Os combates prosseguiram nesta nova frente e contribuíram para a libertação de boa parte da Europa Ocidental.
Mas, apesar do êxito destas acções, importante para a progressão das forças aliadas na Europa Ocidental e a libertação de países antes ocupados pelos nazis, a 2ª Guerra não terminou aí.
Três meses depois, o exército soviético realizou grandes ofensivas contra o flanco meridional das tropas alemãs, tendo daí resultado a libertação da Moldávia soviética, da Roménia e da Bulgária. Em cooperação com os movimentos de resistência desses países, os soviéticos contribuíram para a libertação da Jugoslávia, da Bulgária, da Checoslováquia e, por fim, da Hungria, e cortaram as comunicações das tropas alemãs que conduziam à Albânia e à Grécia, obrigando o comando alemão a retirar à pressa as suas tropas destes dois países.
As tropas britânicas e americanas aproximaram-se de Berlim, a partir da frente ocidental, desde o Mar do Norte até à fronteira suíça.
A operação de Berlim começou a 16 de abril, tendo Hitler decidido assumir pessoalmente o comando da defesa da capital no dia 23.
A 30 de abril as tropas soviéticas ocuparam Berlim, onde tomaram de assalto o Reichstag no qual hastearam a bandeira vermelha da vitória.
Hitler estava no seu bunker onde, tendo perdido todas as esperanças numa reviravolta na guerra, se suicidou.
Às três da tarde de 3 de maio, as tropas nazis cessaram toda a resistência na capital.
Na noite de 8 para 9 de maio foi assinada em Berlim a Acta de Capitulação Incondicional da Alemanha. Terminava assim a guerra… na Europa.
Na sua mensagem de 6 de janeiro de 1945 ao Congresso dos EUA, Franklin D. Roosevelt lembrou: «Nós não podemos esquecer-nos da heróica defesa de Moscovo, de Leninegrado e Estalinegrado, e das gigantescas proporções das operações ofensivas russas em 1943 e 1944, em consequência das quais foram aniquilados os enormes exércitos germânicos.»
Por sua vez Charles de Gaulle salientou, em dezembro de 1944: «Os franceses sabem o que a Rússia Soviética fez por eles e sabem também que foi precisamente a Rússia soviética quem desempenhou o principal papel na sua libertação.»
Finalmente, Winston Churchill, em mensagem a Estaline, em fevereiro de 1945, escreveu: «As futuras gerações reconhecerão a sua dívida ao Exército Vermelho sem quaisquer reservas.»
Mas a guerra continuou em vários países asiáticos e no Pacífico.
A 9 de Agosto de 1945 o governo soviético, cumprindo os seus deveres de aliado, assumido na conferência de Ialta, na Crimeia, de fevereiro de 1945, declarou guerra ao Japão e iniciou contra este uma operação em todas as frentes.
O exército soviético desembarcou nas ilhas Curilhas, entrou nas cidades de Harbin, Kirin, Chang-Chung, Mukden, no Porto Artur e em Daire.
Na Manchúria as tropas japonesas entregaram-se e em duas semanas mais seriam libertados: a Manchúria no seu todo, o norte da Coreia, o sul da ilha de Sacalina e as ilhas Curilhas.
Num mês, as forças armadas soviéticas aniquilaram o Exército de Kuangtung, a base das forças armadas do Japão.
Em 28 de Agosto começou o desembarque das tropas americanas no Japão.
A capitulação do Japão deu-se em 2 de setembro de 1945, às 10h30, a bordo do navio de guerra norte-americano Missouri, fundeado na barra de Tóquio. Aí foi assinada a acta de capitulação incondicional do Japão. Este facto, sim, assinalou o fim da Segunda Guerra Mundial.
Com a Alemanha e o Japão derrotados, nada justificou a destruição por bombardeamentos aéreos de Dresden e de outras cidades alemãs e, depois, as bombas atómicas que destruíram Hiroshima e Nagasaki, em 6 e 9 de agosto, bombardeamentos estes que, no seu conjunto, provocaram mais de um milhão de mortos.
Os EUA não queriam ir acabar a guerra no terreno, como defenderam em Ialta, para pouparem a vida aos seus militares. Optaram, unilateralmente, por lançar as bombas atómicas sobre Hiroshima, provocando cerca de 247 mil mortos, e sobre Nagasaki, três dias depois, provocando cerca de 200 mil mortos e feridos, na sua grande parte civis. Pouparam em vidas militares, optaram por matar os civis.
Claro que essa horrível decisão dos EUA precipitou a rendição japonesa, mas a decisão americana de lançar bombas atómicas sobre civis foi considerada um crime de guerra e uma anterior «confidência» de Truman a Estaline, de que os EUA dispunham «de uma nova arma com uma invulgar força destrutiva», serviu também para tentar assustar a URSS e conter a progressão das forças de esquerda nos territórios libertados no Ocidente e no Leste europeus, com ou sem apoio das tropas soviéticas.
A Rússia anunciou no ano passado ir criar a mais extensa coleção de documentos da Segunda Guerra Mundial, aberta a todas as pessoas em qualquer lugar. Qualquer pessoa, russa ou estrangeira, poderá aceder ao arquivo, inclusive com recurso a um site.