100 anos de Acção e Pensamento Crítico
«A SEARA NOVA representa o esforço de alguns intelectuais, alheados dos partidos políticos mas não da vida política, para que se erga, acima do miserável circo onde se debatem os interesses inconfessáveis das clientelas e das oligarquias plutocráticas, uma atmosfera mais pura em que se faça ouvir o protesto das mais altivas consciências, e em que se formulem e imponham, por uma propaganda larga e profunda, as reformas necessárias à vida nacional.»
Assim começa o Editorial do número 1 da Revista Seara Nova, vinda à luz do dia em 15 de Outubro de 1921.
Hoje, 100 anos depois, preservando e reafirmando os nobres propósitos dos seus fundadores, assinalamos essa efeméride, com uma edição especial, para a qual convidámos intelectuais qualificados das diversas áreas do que considerámos ser a realidade nacional.
Cem anos, mais de metade vividos em ditadura, as ditaduras fascistas de Salazar e Caetano, em que, resistindo e aglutinando, das artes às ciências, o melhor da nossa intelectualidade, a Seara marcou profundamente a vida nacional.
Cem anos caraterizados por saudáveis confrontos, algumas crises, renovações, adaptações.
Cem anos, metade dos quais em regime democrático nascido do heroico levantamento dos «capitães» que, em 25 de Abril de 1974, o dia inicial inteiro e limpo de Sophia de Mello Breyner, nos abriram as portas da liberdade, da democracia, do progresso.
Cem anos que deixam, para a história da luta pela liberdade e pela democracia, pelo progresso económico, social e cultural, um acervo inestimável das mais diversas contribuições recebidas das mais ilustres e prestigiadas personalidades, homens e mulheres, (cientistas, artistas, escritores, filósofos, ensaístas, historiadores,…) que se afirmavam, com a autoridade do seu sólido saber, no nosso meio intelectual.
Contribuições vivas e polémicas, as famosas polémicas da Seara! Onde, com António Sérgio à cabeça, se destacam ainda: Raúl Proença, Rodrigues Miguéis, Castelo-Branco Chaves, Casais Monteiro, Gaspar Simões, Agostinho da Silva, Abel Salazar, Álvaro Cunhal, José Régio, Mário Dionísio, Jorge de Sena, Egídio Namorado, Sant’Anna Dionísio, entre outros.
Cem anos que queremos assinalar e comemorar, não só honrando os seus fundadores e tão empolgante e honroso passado, mas questionando o nosso tempo, as nossas responsabilidades, os modos e as formas de intervenção que os problemas, imensos e diversos, com que atualmente nos defrontamos, exigem para a sua efetiva superação e o estabelecimento de uma linha de orientação clara que mobilize o País, os cidadãos, os trabalhadores, o povo!
Um caminho difícil, reconhecemo-lo, mas… como dizia o poeta: caminhante, não há caminho, faz-se caminho ao andar.