Comemorações do Centenário

No segundo trimestre de 2022 a Exposição Itinerante chegou às cidades de Faro, Setúbal e Santarém, terminando a sua itinerância pelo país. Regressa em Outubro a Lisboa, na Biblioteca Nacional de Portugal, onde será feito o encerramento das Comemorações do Centenário.

Exposição Itinerante «100 anos de Acção e Pensamento Crítico», inauguração na Biblioteca da Universidade do Algarve, 22 de Abril de 2022
Exposição Itinerante «100 anos de Acção e Pensamento Crítico», inauguração na Galeria do Onze, Setúbal, 20 de Maio de 2022
Exposição Itinerante «100 anos de Acção e Pensamento Crítico», inauguração no Centro Cultural Regional de Santarém, 8 de Junho de 2022
Colóquio «Seara Nova», Centro Cultural Regional de Santarém, 18 de Junho de 2022

Calcorreando o país de Norte a Sul e ao fim de 9 meses de itinerância podemos afirmar, sem qualquer sombra de autoelogio que o saldo foi francamente positivo, para o qual contribuíram, desde as entidades que nos acolheram e ajudaram a concretizar esta exposição itinerante; aqueles que aderiram e visitaram a exposição, que participaram nos debates, colóquios, palestras e mesas-redondas; assim como à equipa da Seara Nova de montagem e desmontagem da exposição, incansáveis obreiros e resistentes às adversidades que foram surgindo ao longo do caminho; não esquecendo os nossos estimados assinantes e leitores, que contribuíram, para além da assinatura, com donativos e a aquisição da Medalha comemorativa. O nosso sentido agradecimento a todos e a todas que fizeram valer a pena todo este esforço humano e financeiro da Seara Nova e da sua proprietária a Associação Intervenção Democrática – ID.

Foi assim possível “espalhar” o conhecimento de uma forma de estar e ser na vida ao longo destes 100 anos passados, uma forma activa e interveniente, na defesa dos valores supremos da Democracia, da Liberdade e da Justiça fomentando a reflexão sobre a importância desses valores na sociedade actual e esperançados que este espírito seareiro de acção e pensamento crítico tenha criado raízes nas gerações mais novas.

Partilhamos convosco algumas das intervenções feitas por quem nos acolheu:

  • Ana Santos, coordenadora da Biblioteca de Alcântara, Inauguração da Exposição em Lisboa, 5/10/2021

“Uma revista que resiste assim ao tempo e às muitas mudanças de ordem política, social, económica, cultural, desde a sua 1ª publicação, em Outubro de 1921, tem certamente um lugar de destaque incontornável no panorama dos periódicos portugueses.

Essa resistência foi feita por todos aqueles que continuaram a persistir no espírito seareiro até aos dias de hoje. Fundaram, escreveram e colaboraram com a Seara algumas das figuras mais proeminentes da cultura em Portugal. A Seara foi resistência e farol durante os 48 anos de ditadura fascista.

Em 100 anos não há percursos lineares e só lhes resiste quem for capaz de, em conjunto, se adaptar, se reinventar, não perdendo nunca a matriz que torna único o projecto da Seara, traduzido no ‘espírito seareiro’ de abertura ao diálogo, de promoção do debate de ideias pautado pela ética e pelo rigor científico, focado numa aspiração progressista: a de que «Possam os homens de boas intenções de todas as Pátrias erguer um dia, sobre um mundo que ainda hoje se debate em miseráveis disputas nacionalistas, o arco-de-aliança duma humanidade justa e livre, realizando na paz vitoriosa as conquistas da inteligência e da vontade desinteressada!».

Esta afirmação, retirada do editorial da revista de Outubro de 1921 permanece como a identidade do espírito que anima a Seara e os seareiros.”

  • Fátima Vieira, Vice-Reitora da Universidade do Porto, Colóquio, 18/2/2022

“… a revista Seara Nova foi antes de mais uma revista de pensamento, de ideias, das artes, das letras, da cultura. Diz respeito à Universidade porque a revista Seara Nova definiu a Cultura como o tema central, identificou aliás a Cultura como o tema central de todos os tempos, porque a revista Seara Nova pugnou antes de mais pela ideia essencial, tantas vezes proclamada por António Sérgio, de que é preciso alargar as bases da educação, que é preciso democratizar o ensino.

E é verdade que, por vezes, nós vemos números um pouco mais distantes da Seara Nova e sendo sobretudo confrontados com algumas formulações, como, por exemplo, esta ideia de uma elite intelectual capaz de liderar a transformação da sociedade, é verdade que nós podemos pensar que são ideias do passado, que nós não queremos neste sentido rigoroso recuperar, mas o que temos que entender é que são formulações que são situadas, que são contextualizadas por uma época em que grassava o analfabetismo e que não podem ser naturalmente utilizadas e compreendidas nos nossos tempos se não as actualizarmos também para o nosso tempo. (…)

Daniel Innerarity, ainda recentemente, no livro Uma Teoria da Democracia Complexa, diz-nos que o problema em relação ao conceito de democracia é que quando falamos de democracia hoje nós utilizamos ferramentas teóricas do século XIX, e portanto, o que temos de fazer é entender que vivemos numa sociedade complexa e portanto o conceito de democracia já não funciona, precisamos de um outro conceito, de um conceito de democracia complexa, precisamos de actualizar esses próprios conceitos e precisamos, naturalmente, de actualizar aquilo que se entende por cultura.

E eu diria que o mesmo se aplica à Seara Nova, quando lemos as suas páginas temos de ter a consciência de que os valores que ela promove continuam a ser essenciais, o lugar à cultura, o lugar à liberdade, o lugar à democracia, como causas públicas e bastará, na verdade, actualizarmos o nosso vocabulário e invés de falarmos de elite intelectual dizermos que precisamos de promover o conhecimento e que apenas o conhecimento alargado nas suas bases – nós hoje falamos muito de formação ao longo da vida, falamos de ciência cidadã – portanto apenas o conhecimento capacita para a transformação. Transformação diziam os seareiros, era sempre a palavra utilizada, hoje fala-se de transição para tudo, falavam os seareiros da necessidade de uma transformação educativa do país, da luta contra o analfabetismo, da necessidade de se criar universidades populares, da necessidade de uma junta de orientação dos estudos, da necessidade de uma nova geração conhecedora do que se fazia no estrangeiro e todas estas ideias são ainda actuais se as vestirmos com as roupagens dos nossos dias, se dissermos que precisamos de uma sociedade informada, de uma sociedade capacitada para a intervenção cívica e que a universidade tem, nesse sentido, um papel fundamental a cumprir. Precisamos, pois, eu diria, de hospitalidade intelectual em relação a estas ideias, de abertura para as receber, pois só assim as poderemos compreender. (…)

O filósofo alemão, de origem coreana, Byung-Chul Han, explica num livro com um título muito curioso que é A Expulsão do Outro, por que razão a abertura ao outro é essencial, diz-nos ele que se nós contactarmos com pessoas que pensam exactamente da mesma forma que nós pensamos, se restringirmos o nosso universo a indivíduos que sabem o mesmo que nós sabemos, ou seja, apenas aquilo que nós sabemos, ou seja, se expulsarmos o outro, aquele que é diferente de nós, estamos condenados à mesmidade, e nós precisamos realmente desta hospitalidade intelectual que nos leva a receber o outro, para incorporarmos aquilo que o outro trás de novo, naquilo que nós já sabemos e na nossa forma de pensar. E claro que esta é apenas uma forma contemporânea, diria eu, de formular aquilo que os seareiros sempre formularam, sempre disseram, que temos de fazer da cultura a nossa causa pública.”

Próximas iniciativas:

  • Exposição Itinerante «Seara Nova – 100 anos de Acção e Pensamento Crítico»

4 a 29/10/2022 – Lisboa (Biblioteca Nacional de Portugal)

4/10, 18h – Inauguração

  • Edição revista e ampliada do website Seara Nova (ric.slhi.pt)

Outubro de 2022

  • Conferência de encerramento

15 de Outubro de 2022, Biblioteca Nacional de Portugal

Apoio: Fundação Millennium BCP

  • Colóquio e Exposição sobre “Fernando Lopes-Graça, seareiro”

Dezembro de 2022, Museu da Música (Monte Estoril)

Outras informações:

Está ainda a decorrer a venda da Medalha comemorativa do centenário da autoria do escultor João Duarte pelo valor de 50,00€.

O projecto das Comemorações do Centenário que estamos a desenvolver foi reconhecido como de Interesse Cultural pelo Ministério da Cultura, o que permite usufruir dos benefícios fiscais previstos no regime do Mecenato Cultural.

Dado a amplitude do programa e consequentemente, dos seus custos, torna-se ainda necessário conseguir angariar mais alguns meios financeiros para a sua completa concretização. Agradecemos desde já a todos os amigos e amigas que têm aderido e apoiado financeiramente este esforço da Seara. Reiteramos o apelo a todos no sentido de fazerem chegar ao maior número de pessoas amigas e conhecidas o programa das iniciativas realizadas e a realizar e a necessidade do seu apoio para que possamos concluir, com o sucesso até aqui alcançado, a concretização destas comemorações a que nos propusemos como imperativo histórico e de consciência.

Com o donativo, envie-nos os dados para a emissão do respectivo recibo para efeitos de Mecenato (Nome, Morada, N.º de Identificação Fiscal). Poderá fazer a sua transferência para uma destas contas:

  • BPI – PT50.0010.0000.1982.5620.0018.8
  • CGD – PT50.0035.0100.0001.6294.6302.0

As comemorações têm o apoio da Câmara Municipal de Lisboa, do EGEAC, do Seminário Livre de História das Ideias, do Centro de Humanidades da Universidade Nova de Lisboa, da Biblioteca Nacional de Portugal, da Fundação Calouste Gulbenkian e do Ministério da Cultura.

Para mais informações sobre o programa das comemorações do centenário pode aceder ao site: https://searanova.publ.pt/centenario/.