Cinema – “Campo de Sangue”
João Mário Grilo, cineasta prestigiado, é um profundo conhecedor de Cinema assumido-o sob várias facetas: realizador, ensaísta, crítico, professor.
Autor de obra extensa entre documentários e ficção, após um interregno de catorze anos (“Duas Mulheres” data de 2008) o realizador regressa à ficção com este filme.
Inspirando-se no romance “Campo de Sangue” de Dulce Maria Cardoso, João Mário Grilo cria uma história entre fantasia e realidade.
Há no filme dois planos que se cruzam. Num a personagem vai à procura da sua criadora, interpelando-a a todo o momento. A relação entre ambas não é pacífica e terá um fim trágico. Noutro plano decorre a intriga do livro.
Ele, sem outro nome, é-nos dado a conhecer mediante um olhar feminino.
Quatro mulheres influenciaram a sua vida: a mãe de parco afecto, a senhoria da pensão instalada num prédio decrépito, condenado a demolição, onde vive, a ex-mulher que continua a sustentá-lo, pois é desempregado. Para cada uma destas três mulheres criou sobre si uma mentira diferente de acordo com o que cada uma delas gostaria que ele fosse. A quarta mulher é uma rapariga bonita loura, que vem perturbar o equilíbrio das suas mentiras.
Num dia de praia avista uma rapariga bonita loura e apaixona-se. Para reencontrá-la corre a vários locais e acaba por confundi-la com uma outra, julgando ser a primeira. Dedica-lhe um amor obsessivo, satisfazendo-lhe todos os desejos e vive com ela na pensão.
Lisonjeada no início com este amor excessivo, a jovem acaba por receá-lo e abandona-o. Quando ele regressa à pensão e nota a sua ausência no quarto enlouquece. Enraivecido, de cabeça perdida, grita com todos, ameaça-os, arrasa a pensão de alto a baixo e acaba por cometer um crime.
É um filme complexo, denso, labiríntico, que agarra o espectador.
No elenco de excelentes actores há que distinguir Carloto Cotta na personagem Ele, com uma extraordinária interpretação.