José Saramago na Seara Nova

José Saramago inicia a sua colaboração na Seara Nova em Março de 1950 com um conto, «O sr. Cristo» (SN nº 1158-1159). Seguiu-se-lhe, em Novembro de 1964 (SN nº 1429), um poema em homenagem a Cervantes.

Seara Nova nº 1158-1159, Março de 1950

Em Maio de 1967 inicia, como crítico literário, uma colaboração regular, que se estenderá até Novembro de 1968. Foram 27 os escritores, sobre cujas obras Saramago se debruçou: Agustina Bessa-Luís, Alberto Sales, Alice Sampaio, Álvaro Godinho dos Santos, Álvaro Guerra, Augusto Abelaira, Cardoso Pires, Fausto Lopo de Carvalho, Ferreira de Castro, Jorge de Sena, José Marmelo e Silva, Júlio Moreira, Lima Rodrigues, Luís Sobral, Manuel Poças das Neves, Manuela Montenegro, Mário Braga, Mário Ventura, Natália Nunes, Nelson de Matos, Odylo Costa, Rentes de Carvalho, Ruben A., Rui Nunes, Sá Coimbra, Teobaldo Virgínio, Urbano Tavares Rodrigues.

Entre as obras criticadas figurou «Eva» do escritor Sá Coimbra que motivou a única polémica de Saramago na Seara Nova. Dessa polémica, pela sua natureza e carácter, destacamos o seguinte extracto da resposta de Saramago (SN nº 1474, Agosto 1968):

«…O ponto final é mesmo um ponto final. Tenho outras críticas a fazer (mas valerá a pena?) e Sá Coimbra outros romances para escrever. Marco um encontro a Sá Coimbra para daqui a vinte anos. O mais certo é estarmos ambos esquecidos. Não nos demos, pois, demasiada importância…».

Não foram vinte, mas trinta. Trinta anos depois, Saramago era prémio Nobel!

Seara Nova nº 1543, Maio de 1974

José Saramago retoma a sua colaboração em Outubro de 1972 com um texto de natureza política, área que prosseguirá nas seguintes colaborações, mais espaçadas, até 1978, com destaque para o Editorial do primeiro número publicado pós 25 de Abril. Da colaboração desse período, transcrevemos, pelo que julgamos servir para ilustrar a personalidade de alguma irreverência que o caracterizava, o seguinte texto em resposta a um inquérito lançado pela Seara em Novembro de 1972 (SN nº 1537) com o título: «Como concebe o Socialismo?»:

«Perguntar em Portugal a um português “como concebe o socialismo”, que é? Exercício intelectual a que se espera venha a responder outro intelectual exercício? Tentativa de inventariação de forças? Esperança de cá se encontrarem os remédios milagrosos que curariam os desentendimentos próximos e os internacionais remotos? Ou apenas motiva a pergunta a vontade de averiguar em que ponto vai, entre nós, a querela (para assim lhe chamar) entre “socialismo democrático” e “socialismo autoritário”? Em qualquer caso, a pergunta parece-me inoportuna, inadequada e gravemente alheada ou inconsciente dos condicionalismos que começarão por influir (antes) na dedução das respostas e modificarão (depois) o significado “estatístico” delas. Não respondo, pois – o que, acreditem aqueles que em saber o que penso estejam interessados, é também uma clara maneira de responder…»