TRIBUNA PÚBLICA – “Os novos Zecas, Adrianos, Godinhos…”
“(…) Vivemos um tempo em que até o discurso político se tornou uma fonte bizarra de teatro e entretenimento e não há muitos espaços que não tenham sido corrompidos. Sob muitos aspetos, muitas das nossas inter-relações estão a tornar-se artificiais por causa da tecnologia, e muitos transacionais, baseadas no consumismo capitalista.”, lamenta.
(…) “A humanidade sempre atravessou estas grandes mudanças cataclísmicas. O que mudou realmente neste momento é a nossa perceção dela, por vivermos inundados em tanta informação, mas o sofrimento e a arrogância sempre foram um tema central para a civilização desde há milhares de anos. Encontro algum conforto nisso.
(…) Silicon Valley e as indústrias tecnológicas são a Estrela da Morte que eclipsou toda a música, inteligência e cultura outrora tão vivas, a florescer há tanto tempo”, acusa.
(…) Em termos culturais matámos Deus e a religião organizada e substituímo-los pelo consumismo capitalista, adotado por toda a gente duma forma apaixonada, mas que é uma forma de pensar o mundo despida de alma”, aponta. “É um atrevimento e uma arrogância que, espero, conseguiremos ultrapassar. Para além dos balanços financeiros, para além de toda a gente ter a sua parte do lucro, há uma lógica natural que nos diz que tudo acontece em ciclos, que as coisas têm de morrer para que a vida continue”.
Natalie Merling (1988, Califórnia); nome artístico: Weyes Blood
Ípsilon, 9/12/2022
Uma jovem, cantora “pop” que, apesar de bem-sucedida na grande meca do capitalismo, o critica assim como à sociedade por ele dominada. Diz a nossa jovem artista: «muitas das nossas inter-relações estão a tornar-se artificiais por causa da tecnologia», e mais à frente: «Silicon Valley e as indústrias tecnológicas são a Estrela da Morte que eclipsou toda a música, inteligência e cultura…»
Mas …
Há quase sempre um mas!
Mas não é a tecnologia mais do que a Ciência aplicada? A Ciência que ainda há bem pouco tempo desempenhou papel fundamental na superação de uma das mais terríveis crises sanitárias que a humanidade conheceu.
É sempre com grande satisfação que ouvimos de jovens do nosso tempo e de áreas exploradas pelo capitalismo para alienação dos habitantes deste nosso maravilhoso planeta, tomarem posição contra essa tentacular e destruidora organização geralmente designada de capitalismo (liberal, neoliberal, selvagem, de rosto humano, etc.), confundindo o ato humano de prosseguir o conhecimento e a criação de novos instrumentos para o progresso social, económico, cultural da humanidade (Ciência e Tecnologia), com o ato humano de oprimir, dominar, manipular, chantagear…
É um sintoma? Uma moda? Ou uma menor, diríamos mesmo, muito ligeira, forma de abordar a realidade? Numa, embora bem intencionada, ânsia de emitirem a sua opinião, proferirem a sua afirmação, testemunho, para “memória futura” como agora é uso referir quando se quer tomar posição, normalmente quanto ao estado, “mau”, do Mundo em que vivemos? Fenómeno dos nossos dias que, para além destes jovens da área das artes, maioritariamente musicais, verificamos em áreas mais “cultas” (filósofos, historiadores, opinion makers) que têm muitas vezes e até conscientemente, vindo a construir discursos “teorias” demagógicos e mesmo falsos, destinados a alimentar a “indústria” pensante. A indústria da produção “intelectual”, especulativa e mesmo acientífica!
Apesar de tudo, viva o inconformismo juvenil e não só!