O III CONGRESSO DA OPOSIÇÃO DEMOCRÁTICA – LIMIAR DE ABRIL

O I Congresso Republicano de Aveiro realizado em 1964 em Aveiro, autorizado por Salazar numa manobra de pseudo abertura política junto do contexto internacional crítico, esboça uma frente da oposição acentuada no II Congresso em 1969, realizado na dita “primavera marcelista”. Será o III Congresso, Congresso da Oposição Democrática, de 4 a 8 de abril de 1973, que constitui o prefácio da queda do regime.

A organização do III Congresso inicia-se em novembro de 1972. Vários acontecimentos forjam a unidade da oposição da CDE, Comissão Democrática Eleitoral e da CEUD, Comissão Eleitoral de Unidade Democrática. Em janeiro de 1973 a ocupação da Capela do Rato em Lisboa em vigília de greve da fome em repúdio da guerra colonial, sendo a capela invadida e detidas 70 pessoas; as lutas académicas, o processo contra estudantes, vários incorporados como castigo no Exército e na guerra colonial, levam “a agitação aos quartéis.” Surge o Movimento das Forças Armadas. Na igreja destaca-se o Padre Mário de Oliveira detido pela sua homília no Dia Mundial da Paz.

Criam-se as Comissões Executiva e Nacional, numa unidade que proporciona uma única lista da oposição nas eleições legislativas de 1973. De 4 a 8 de abril de 1973 realiza-se no Cine-Teatro Avenida, o III Congresso da Oposição Democrática com a participação de 4 mil democratas e ocorrem cento e vinte comunicações em oito secções:

  1. Desenvolvimento económico e social. 2. Estrutura e transformação das relações de trabalho. 3. Segurança social e saúde. 4. Urbanismo e habitação. 5. Educação, cultura e juventude. 6. Desenvolvimento regional e administração local. 7. Organização do Estado e direitos do homem. 8. Situação e perspetivas políticas.

Notável a presença de jovens trabalhadores cuja entrada em Aveiro, a polícia de choque tentou impedir através de cargas policiais e significativa a presença de estudantes universitários, particularmente de Lisboa e Coimbra, cidades de intensa luta, destacando-se a crise académica de 17 de abril de 1969.

Discreta a presença de elementos das Forças Armadas, agentes na luta antifascista, especialmente visando a guerra colonial condenada por alguns países e pela Comissão de Descolonização da ONU em agosto de 1973.

A documentação da PIDE presente na Torre do Tombo cita a minha participação no Congresso identificando-me como membro do Secretariado, das Comissões Coordenadora, Nacional, Executiva, Distrital de Lisboa, Regional do distrito de Aveiro e da Comissão de Imprensa, na qual se encontram também os jornalistas João Paulo Guerra e José João Louro, Três insones em Tempos de Noitadas e Odisseias” escreve Pedro Caldeira Rodrigues no jornal Público.

A sessão de encerramento do Congresso no qual 4000 pessoas, numa sala de espaço calculado para 1700 participantes, reclamam em uníssono o fim da guerra, regista-se um momento de silêncio pelos militares mortos, a luta contra o poder absoluto monopolista, pelas liberdades democráticas e no final ouve-se a “Jornada”, da autoria de Lopes-Graça, cantada por Luísa Basto.

Culminando o final, realiza-se a 9 de abril uma manifestação de homenagem a Mário Sacramento, democrata comunista, escritor, ensaísta, figura tutelar do I e II Congressos de Aveiro, com romagem ao seu túmulo, reprimida por uma brutal carga da Polícia de Choque comandada pelo sinistro capitão Maltês. O Diário de Notícias publica na primeira página a notícia “Terminou em Aveiro o Congresso da Oposição Democrática. As forças da ordem dispersaram a manifestação não autorizada”.

Apesar da violenta reação do fascismo, o III Congresso de Aveiro abre para “as portas que Abril abriu”.