CINEMA – “O bom patrão”

Realizador: Fernando León de Aranoa. Intérpretes: Javier Bardem, Manolo Solo, Almudena Amor, Sonia Almarcha. (Espanha, 2021)

O filme foca as relações laborais entre patrão e empregados duma fábrica de balanças, a «Básculas Blanco», situada na província.

É uma sátira fina, sarcástica, contundente, que põe a nu a hipocrisia patronal. Num discurso manipulador, Blanco começa por agradecer aos seus operários o excelente contributo que deram para os lucros obtidos.

Em tom dramático declara que os aprecia enormemente e os vê como seus «filhos». Com voz suave diz que se interessa pelas suas condições de trabalho, o seu bem-estar, mas o seu apoio estende-se também às suas vidas privadas, aos problemas familiares, e ele está ali para ajudar a resolvê-los.

O objectivo deste discurso é convencer os empregados a trabalharem mais e melhor para conseguir ganhar o prémio de «Excelência Empresarial».

Na verdade o patrão é um homem que se imiscui na vida particular dos trabalhadores, procurando motivos para os despedir a seu belo prazer, mesmo aqueles que são excelentes profissionais, alegando que só os interesses da fábrica o obrigam àquele acto.

Um dia um dos operários de excelência é despedido sem justa causa e ele resolve agir. Instalando-se diante da fábrica. Com megafone na mão insulta o patrão, denunciando as suas desvergonhas, a falsidade das suas palavras, as atitudes de prepotência.

As ameaças do patrão de represálias, expulsão do local ou ofertas de emprego, promoção e outros benefícios não demovem o ofendido.

O filme, longo, está repleto de episódios caricatos que revelam os abusos de poder, tanto na vida laboral como na privada dos trabalhadores.

De realçar a interpretação de Javier Bardem. A rapidez de mudança fisionómica é extraordinária: a raiva contida, a expressão dura muda imediatamente para um sorriso afectuoso, um ar complacente, conforme as situações. Excelente actuação.