Urgentemente a Paz!

Rufam os tambores da guerra no Médio Oriente, numa escalada promovida pelo governo de Israel, com o apoio político-militar ou a conivência hipócrita dos governos dos EUA, do Reino Unido e de diversos países da União Europeia, e com a manipulação informativa de muitos órgãos de comunicação social.

O cenário é horrível e o balanço catastrófico. Só na Faixa de Gaza, durante um ano, registaram-se mais de 40 mil pessoas mortas, incluindo milhares de crianças, centenas de milhar de feridos e mais de 2 milhões de pessoas deslocadas, perdendo a sua habitação e os seus haveres, e sem acesso a água, electricidade, comida e assistência médica. Um desastre humanitário, em resultado da violência da guerra e da violência da fome, exercida pelo governo colonialista de Israel, em manifesta violação do direito internacional e do direito internacional humanitário.

Um desastre ao qual não podemos, nem devemos ficar indiferentes, porque atenta contra o mais elementar dos direitos humanos, consagrado no artigo 1.º da Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada em dezembro de 1948, pela Assembleia Geral da ONU: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos”.

Um desastre, vergonha de nós todos, que fere a humanidade inteira.

Como escreveu, Amílcar Cabral, cujo centenário do nascimento se evoca, em “No fundo de mim mesmo…” (*):

No fundo de mim mesmo
eu sinto qualquer coisa que fere minha carne,
que me dilacera e tortura …

… qualquer coisa estranha (talvez seja ilusão),
qualquer coisa estranha que eu tenho não sei onde
que faz sangrar meu corpo,
que faz sangrar também
a Humanidade inteira!

Vivemos tempos conturbados, povoados de profundas contradições, que não se compadecem com a indiferença e o silêncio sobre tanta monstruosidade.

Por isso, por toda a parte, e perante o desconcerto do mundo e a barbárie que grassa, ouvem-se os clamores de milhões de pessoas, em manifestações de rua e noutros locais, contra a guerra e o genocídio do povo palestiniano, por um cessar-fogo imediato e permanente e a paz.

Clamor e inquietude activa que nos remete para o poema de Manuel Gusmão, “Aquele que em comum falávamos” (**), que convoca e cita o primeiro verso do poema “O desconcerto do Mundo”, de Luís de Camões:

Quem pode no mundo ser tão quieto

Que não o movem nem o clamor do dia

Nem a cólera dos homens desabitados

Nem o diamante da noite que se estilhaça e voa

Nem a ira, o grito ininterrupto e suspenso

Que golpeia aqueles a quem voz cegaram

Quem pode ser no mundo tão quieto

que o não mova o próprio mundo nele.

Antes que seja tarde, urge parar este desastre que ameaça conduzir-nos, a todos, para o abismo. Nesse sentido, importa demonstrar a nossa inquietação e proclamar, bem alto, a defesa do direito à vida de todos os palestinianos, com justiça e dignidade, no respeito pelas deliberações do Conselho de Segurança da ONU, e pelos acordos assinados.

Por isso, é inadiável parar a escalada da guerra no Médio Oriente e pôr fim ao massacre que o governo de Israel está a cometer na Faixa de Gaza e em toda a Palestina.

É urgente a Paz!

(*) Emergência da poesia em Amílcar Cabral - 30 poemas, 2.ª ed., Fundação Amílcar Cabral, 2018 (recolhidos e organizados por Oswaldo Osório)
(**) Migrações do Fogo, Caminho da Poesia, 2004