Exposição – “Maria Lamas homenageada”

Coincidindo com os 50 anos do 25 de Abril de 1974, a Fundação Calouste Gulbenkian apresentou pela primeira vez uma exposição consagrada a Maria Lamas, sob o título «As Mulheres de Maria Lamas», que decorreu de 26 de Janeiro a 26 de Maio de 2024.

Poetisa, jornalista, romancista, autora de livros para a infância, tradutora prestigiada de grandes escritores, esta mulher, muito à frente do seu tempo, generosa e solidária, foi uma corajosa opositora ao Estado Novo e grande defensora da Paz e dos Direitos das Mulheres.

A mostra da Gulbenkian tinha como foco revelar e valorizar o talento de Maria Lamas como fotógrafa, apesar de não ter qualquer formação nesta área.

As 67 fotos de mulheres escolhidas entre as muitas que Maria Lamas realizou para ilustrar a sua reportagem de sucesso «As Mulheres do meu País», são a prova disso como afirmou o curador da exposição, Jorge Calado: o trabalho da autora equipara-se ao que faziam os grandes fotógrafos norte-americanos, neo-realistas revelados nos anos 30 e 40.

A reportagem da jornalista saiu em fascículos (1948-1950) para evitar a censura e só foi editada em livro em 2002. Um exemplar sobre uma coluna podia folhear-se.

Nas salas dedicadas a esta mulher ilustre aparecia escrita a sua biografia (1893-1983), onde avultam as suas muitas iniciativas para promover as mulheres, a constante perseguição política, as suas prisões, que tanto prejudicaram a sua obra literária, o exílio em Paris, a sua participação em Congressos internacionais pela Paz e a Promoção das Mulheres.

Em várias vitrines mostrava-se alguns dos jornais em que colaborou e exemplares dos livros que escreveu, como «Os humildes», 1923, poemas, o romance «Para além do amor», 1935, «A Mulher e o Mundo», 1952, em dois grossos tomos, entre outros. Numa última sala exibia-se os retratos da pessoa Maria Lamas em várias idades e ainda a pintura-retrato que Júlio Pomar lhe dedicou.

Maria Lamas deixou um legado precioso de conhecimento, pensamento e acção que não pode ser esquecido. Após a Revolução dos Cravos, recebeu muitas homenagens públicas, condecorações, e continua a sua luta pela democracia, sempre.

Lembre-se que o Movimento Democrático de Mulheres (MDM), que Maria Lamas impulsionou e de que foi Presidente Honorária, lhe dedicou dois congressos: um realizado no Porto (22 de Maio de 2004) intitulado «Memória, obra e pensamento de Maria Lamas» e outro em Almada (12 de Dezembro de 2015) sob o título «Vida e Obra de Maria Lamas».

*Ver «Nota de Leitura», in Seara Nova nº 1704, Verão 2008, pg. 46.

Dulce Rebelo

(1926)
Investigadora e professora universitária

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