Nota de Leitura – “As identidades assassinas”

Amin Maalouf, escritor libanês há muito radicado em Paris, é autor de numerosos artigos, ensaios, livros, alguns premiados, tendo a sua obra projecção internacional.

Durante 12 anos dedicou-se ao jornalismo. Como profissional cumpriu diversas missões em mais de 60 países que conhece bem.

Uma múltipla formação em sociologia, história, economia, filosofia permite-lhe escolher temas da maior actualidade que aborda nos seus livros, revelando profundo conhecimento do Oriente e do Ocidente.

No livro «As Identidades Assassinas» (Marcador, 2023), o autor aborda a questão da identidade, insurgindo-se contra aqueles que em nome dela chacinam pessoas em todo o lado e em todo o mundo, vistas como o “inimigo”. Ora, explica o autor, a identidade evocada é apenas a faceta dum todo, afirmando «A identidade de cada um é constituída por uma multitude de elementos: a pertença a uma tradição, uma religião, uma nacionalidade, um grupo linguístico», entre outros.

No decorrer do tempo vão-se adicionando outras facetas como o conhecimento de diferentes culturas que se assimilam, integram ou inspiram, ampliando a visão individual do mundo.

Neste sentido não se pode aceitar que em nome da religião se massacrem populações vistas como adversárias e o escritor lembra as lutas que antecederam a modernidade como o choque das religiões, a criação do Tribunal da Inquisição pelo catolicismo que perseguiu, torturou e matou inúmeros judeus e a violência do islamismo que no passado, e ainda no presente, massacra populações, desenvolvendo ódios sem qualquer fundamento.

Num estilo fluído, como se conversasse com o leitor e com ele reflectisse sobre tema tão sério, o autor argumenta, informa, esclarece, ensina e convence.

Ao longo das páginas do livro, A. Maalouf revela-se um humanista, afirmando que só em democracia é possível a aproximação e o diálogo com o “outro”, e que é indispensável rejeitar a violência, defender o respeito pela dignidade humana e o combate conjunto de mulheres e homens pela concretização dos seus direitos.

Dulce Rebelo

(1926)
Investigadora e professora universitária

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