Nota de Leitura – “ABRIL, Imaginação e Memória(s)”

“Em ABRIL ESTÓRIAS MIL” (Edições Colibri) é o mais recente dos livros escritos por Jaime Fernandes, que o autor apresentou, em Santarém, na centenária Associação Recreativa Operária. Para o efeito “pediu a mão” do Capitão de Abril, hoje conceituado, Coronel Correia Bernardo, arquiteto e guardião do PLANO – B, que entraria em ação, caso a Coluna de Salgueiro Maia entrasse em dificuldades na execução do PLANO – A: de desalojar a Ditadura instalada no Poder repressivo.

Leitor que se decida a folhear este trabalho, cheio de engenho, e prenhe de memórias valiosas e muito úteis, não vai sentir-se frustrado com o que saiu da pena do resistente antifascista, Jaime Fernandes, libertado da prisão de Caxias, no dia 27 de Abril de 1974. Escrita acessível, de notável beleza e simplicidade no estilo; conteúdo de valor imprescindível a quem busca Saber, nas estórias da História. No interior das 134 páginas que o compõem, um avô (Francisco), em diálogo “pedagógico”, e em modo peripatético, deambulando com sua neta (Kaia), vai fazendo de Guia pelo meio do abundante e rico Património histórico-cultural da Cidade de Santarém, não desperdiçando a oportunidade de fornecer à interlocutora, e a nós leitores, conhecimentos e acontecimentos socioculturais uns, e políticos outros, vividos, experimentados e sofridos na primeira pessoa. Percorrendo-o, nele, encontramos resposta para muitas das perguntas, ainda não satisfeitas, sobre o Antes, o Momento e o Depois do 25 de Abril de 1974.

E depois de uma longa deambulação pelas ruas, pelas memórias e palas palavras, suspira, enfim:

«Kaia, tentei transmitir-te as memórias que achei mais significativas (…) do meio social, cultural e político em que me movi, numa fase extraordinária da história de Portugal, que marcou o país e até o mundo, dado o seu impacto político. Ficaste a conhecer não só as deambulações do teu avô, como uma parte importante da história do meu país.» (vd págs 83/84).

Para trás, já lhe havia descrito como se processavam as brutais detenções dos presumíveis conspiradores contra o regime, como decorriam os interrogatórios e seus contextos de tortura, os longos períodos de isolamento, sem livros, sem ver nem ouvir ninguém, os recreios em cubículos exíguos donde se podia ver apenas o céu, e a enorme tensão e pânico que os invadiu e atormentou, no dia 25 de Abril, por nada saberem… Até o temor de poderem ser fuzilados os assaltou!

Carlos A. Cruz

(1938)
Professor aposentado
Professor de Religião e Moral na Escola Técnica de V.F. de Xira: 1966-1970

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