Nos dois primeiros momentos - em 1921, aquando do lançamento do nº1 da Revista e em 1961, no início da renovação dos anos sessenta - trata-se mais de declarações de princípios, doutrinárias, cobrindo tanto a revista como o movimento cívico do grupo seareiro.
No terceiro momento, no Verão de 1985, quando se dá a reestruturação da revista já no regime democrático, os princípios enunciados, numa linha de continuidade com os anteriores princípios doutrinários, definem-se com Estatuto Editorial.
O GRUPO SEARA NOVA não lisonjeará nenhuma classe da sociedade.
O GRUPO SEARA NOVA não dará a nenhum dos seus aderentes qualquer esperança de benefício pessoal.
O GRUPO SEARA NOVA não pretende o poder, mas preparar as condições necessárias de todo o verdadeiro poder.
O GRUPO SEARA NOVA quere a Revolução, mas não aplaude as revoluções.
O GRUPO SEARA NOVA quere semear em proveito colectivo, e não colher em proveito próprio.
O GRUPO SEARA NOVA não se limita a prosternar-se perante as glórias passadas da Pátria: quere criar para a Pátria uma nova glória.
O GRUPO SEARA NOVA não olha o Passado, marcha resolutamente para o futuro.
O GRUPO SEARA NOVA não se limita a glorificar os mortos heróis: quere que apareçam os heróis vivos.
O GRUPO SEARA NOVA não fará festas, nem lançará morteiros. Dirige todos os esforços para a acção, e para a preocupação do dia de hoje e de amanhã.
"Seara Nova" constitui um movimento cultural, doutrinário e crítico que se insere na continuidade expressa de um pensamento de esquerda socialista republicana.
Fiel à tradição da sua prática social e aos princípios que o têm orientado durante quarenta anos de presença ininterrupta, o movimento repele como imprópria qualquer forma de atitude contemplativa ou passiva perante os sucessos que interessam aos povos do mundo e defende como própria da sua índole uma acção esclarecida, que conduza a consciência dos nossos concidadãos a um nível de elevada compreensão crítica da sua história passada e hodierna. Nada do que ocorra no País e no Mundo, desde que significativo, é alheio ao movimento seareiro.
Dentro desta orientação, a Seara Nova definiu alguns pontos do que referiu, no número duplo 1391-92, de Setembro/Outubro de 1961, como sendo uma síntese doutrinária com vista à articulação do seu programa.
São doze pontos, em numeração romana, de que se transcrevem de seguida os mais significativos como normas de estatuto editorial:
I - O movimento seareiro radica nas aspirações mais sentidas do povo português no que toca à distribuição da riqueza social, à aplicação da justiça informada pelos ideais democráticos, à exploração racional das reservas naturais e humanas, à igualdade de oportunidades sociais para todos os indivíduos sem discriminação, ao acesso dos mais aptos cidadãos à gestão do Estado e à orientação das instituições políticas, económicas e culturais.
VII - ... Sendo seu propósito (da Seara Nova) contribuir para um movimento de opinião democrática, fundado na generalidade dos princípios humanísticos, a obrigação mais nítida que a si própria impõe é divulgar os fundamentos críticos, filosóficos e científicos de tais princípios. Ajudar pois a radicação de um espírito crítico e a restauração das liberdades que possibilitem o livre exame e a formação de uma opinião pública esclarecida é, antes de quais quer outros, o seu firme intento.
IX - "Seara Nova" defende uma orientação socialista e republicana e radica a sua concepção do mundo e do homem no racionalismo crítico, na experiência científica e, geralmente, nas doutrinas filosóficas que se fundam na razão e na ciência.
X - Não constituindo um partido, como se disse, mas não se alheando da vida política, a "Seara Nova" manifesta-se necessariamente como opinião oposicionista ao actual regime.
XII - Atentos às condições em que vive a sociedade portuguesa e na actual conjuntura política, "Seara Nova" não pode deixar de reafirmar como pontos essenciais do seu programa a defesa da liberdade de opinião, a restauração da ordem democrática e a aplicação clara e rigorosa de métodos democráticos para a solução dos problemas nacionais. Defenderá, portanto, a prática de uma unidade progressiva do povo português, mediante a qual se alcancem os objectivos que o nosso ideário propõe.
Note-se que no Verão de 1985 foi publicado o primeiro número da "nova Seara Nova"; por isso o ponto 1. do Estatuto refere-se aos antecedentes da Revista como da "antiga Seara Nova".
Aliás, nesta altura a Revista tomou nova numeração, que veio a ser incorporada na antiga numeração a partir do nº 1685 do Verão de 2004.
Reproduza-se então o Estatuto Editorial do Verão de 1985:
A nova Seara Nova propõe-se:
A Seara Nova – Revista de doutrina e crítica pretende:
Renovar a mentalidade da élite portuguesa, tornando-a capaz dum verdadeiro movimento de salvação;
Criar uma opinião pública nacional que exija e apoie as reformas necessárias:
Defender os interesses supremos da nação, opondo-se ao espírito de rapina das oligarquias dominantes e ao egoísmo dos grupos, classes e partidos;
Protestar contra todos os movimentos revolucionários, e todavia defender e definir a grande causa da verdadeira Revolução;
Contribuir para formar, acima das Pátrias, a união de todas as Pátrias – uma consciência internacional bastante forte para não permitir novas lutas fratricidas;
Assegurar o respeito pelos princípios deontológicos e pela ética profissional dos jornalistas, assim como pela boa fé dos leitores.