1921 - 2021

Percurso

Estatuto editorial

Há especialmente três momentos em que nas páginas da Seara Nova se aflora a questão do Estatuto Editorial.

Nos dois primeiros momentos - em 1921, aquando do lançamento do nº1 da Revista e em 1961, no início da renovação dos anos sessenta - trata-se mais de declarações de princípios, doutrinárias, cobrindo tanto a revista como o movimento cívico do grupo seareiro.

No terceiro momento, no Verão de 1985, quando se dá a reestruturação da revista já no regime democrático, os princípios enunciados, numa linha de continuidade com os anteriores princípios doutrinários, definem-se com Estatuto Editorial.

1921

O Editorial do número 1 da Seara Nova de Outubro de 1921, termina com a seguinte declaração de princípios do Grupo Seara Nova, que tem sido tomada como primeiro Estatuto Editorial da revista:

O GRUPO SEARA NOVA não lisonjeará nenhuma classe da sociedade.

O GRUPO SEARA NOVA não dará a nenhum dos seus aderentes qualquer esperança de benefício pessoal.

O GRUPO SEARA NOVA não pretende o poder, mas preparar as condições necessárias de todo o verdadeiro poder.

O GRUPO SEARA NOVA quere a Revolução, mas não aplaude as revoluções.

O GRUPO SEARA NOVA quere semear em proveito colectivo, e não colher em proveito próprio.

O GRUPO SEARA NOVA não se limita a prosternar-se perante as glórias passadas da Pátria: quere criar para a Pátria uma nova glória.

O GRUPO SEARA NOVA não olha o Passado, marcha resolutamente para o futuro.

O GRUPO SEARA NOVA não se limita a glorificar os mortos heróis: quere que apareçam os heróis vivos.

O GRUPO SEARA NOVA não fará festas, nem lançará morteiros. Dirige todos os esforços para a acção, e para a preocupação do dia de hoje e de amanhã.

1961

Na renovação dos anos sessenta é apresentada uma Síntese Doutrinária para um Programa Seareiro, que vale como um estatuto editorial, coerente com os princípios de 1921; mas que ainda ultrapassa o âmbito editorial, como pode constatar-se:

"Seara Nova" constitui um movimento cultural, doutrinário e crítico que se insere na continuidade expressa de um pensamento de esquerda socialista republicana.

Fiel à tradição da sua prática social e aos princípios que o têm orientado durante quarenta anos de presença ininterrupta, o movimento repele como imprópria qualquer forma de atitude contemplativa ou passiva perante os sucessos que interessam aos povos do mundo e defende como própria da sua índole uma acção esclarecida, que conduza a consciência dos nossos concidadãos a um nível de elevada compreensão crítica da sua história passada e hodierna. Nada do que ocorra no País e no Mundo, desde que significativo, é alheio ao movimento seareiro.

Dentro desta orientação, a Seara Nova definiu alguns pontos do que referiu, no número duplo 1391-92, de Setembro/Outubro de 1961, como sendo uma síntese doutrinária com vista à articulação do seu programa.

São doze pontos, em numeração romana, de que se transcrevem de seguida os mais significativos como normas de estatuto editorial:

I - O movimento seareiro radica nas aspirações mais sentidas do povo português no que toca à distribuição da riqueza social, à aplicação da justiça informada pelos ideais democráticos, à exploração racional das reservas naturais e humanas, à igualdade de oportunidades sociais para todos os indivíduos sem discriminação, ao acesso dos mais aptos cidadãos à gestão do Estado e à orientação das instituições políticas, económicas e culturais.
(…)

VII - ... Sendo seu propósito (da Seara Nova) contribuir para um movimento de opinião democrática, fundado na generalidade dos princípios humanísticos, a obrigação mais nítida que a si própria impõe é divulgar os fundamentos críticos, filosóficos e científicos de tais princípios. Ajudar pois a radicação de um espírito crítico e a restauração das liberdades que possibilitem o livre exame e a formação de uma opinião pública esclarecida é, antes de quais quer outros, o seu firme intento.
(…)

IX - "Seara Nova" defende uma orientação socialista e republicana e radica a sua concepção do mundo e do homem no racionalismo crítico, na experiência científica e, geralmente, nas doutrinas filosóficas que se fundam na razão e na ciência.

X - Não constituindo um partido, como se disse, mas não se alheando da vida política, a "Seara Nova" manifesta-se necessariamente como opinião oposicionista ao actual regime.
(…)

XII - Atentos às condições em que vive a sociedade portuguesa e na actual conjuntura política, "Seara Nova" não pode deixar de reafirmar como pontos essenciais do seu programa a defesa da liberdade de opinião, a restauração da ordem democrática e a aplicação clara e rigorosa de métodos democráticos para a solução dos problemas nacionais. Defenderá, portanto, a prática de uma unidade progressiva do povo português, mediante a qual se alcancem os objectivos que o nosso ideário propõe.

1985

No terceiro momento, os princípios e objectivos da Seara Nova são apresentados sob a forma de Estatuto Editorial (Verão de 1985). Este estatuto continua com uma grande carga doutrinária, dele estando ausentes quaisquer normas regulamentares.

Note-se que no Verão de 1985 foi publicado o primeiro número da "nova Seara Nova"; por isso o ponto 1. do Estatuto refere-se aos antecedentes da Revista como da "antiga Seara Nova".

Aliás, nesta altura a Revista tomou nova numeração, que veio a ser incorporada na antiga numeração a partir do nº 1685 do Verão de 2004.

Reproduza-se então o Estatuto Editorial do Verão de 1985:

A nova Seara Nova propõe-se:

  1. Respeitar os objectivos de intervenção cívica da antiga "Seara Nova", defender e difundir a sua mensagem cultural, democrática e progressista, contra mentalidades e interesses de classe ultrapassados que o 25 de Abril condenou.
  1. Ser espaço aberto e estímulo à convergência de todas as forças de Esquerda, para a construção da sociedade nova que a Constituição de 1986 aponta.
  1. Não promover a discussão estéril e a divisão no seio da Esquerda, que significa auto-destruição, e privilegiar nela o que há de convergente, para sua consolidação e unidade, frente ao avanço ameaçador das forças que se opõem à democracia e ao progresso.
  1. Ser resistência e oposição a essas forças e combater o espírito e a prática dos governos que a elas se subordinem ou as representem, pelo esclarecimento das situações e defesa da verdade e denúncia activa das desigualdades económicas e sociais.
  1. Opor-se às acções de domínio estrangeiro que ponham em causa a cultura, a segurança e a independência nacionais e o desenvolvimento económico do país, privilegiando a diversificação das relações internacionais.
  1. Empenhar-se no desenvolvimento da cooperação entre o povo português e os povos de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e S. Tomé e Príncipe e também com o povo brasileiro aproveitando coerentemente os laços históricos e as relações sócio-culturais existentes.

Actual

Actualmente o Estatuto Editorial da Seara é o seguinte:

A Seara Nova – Revista de doutrina e crítica pretende:

Renovar a mentalidade da élite portuguesa, tornando-a capaz dum verdadeiro movimento de salvação;

Criar uma opinião pública nacional que exija e apoie as reformas necessárias:

Defender os interesses supremos da nação, opondo-se ao espírito de rapina das oligarquias dominantes e ao egoísmo dos grupos, classes e partidos;

Protestar contra todos os movimentos revolucionários, e todavia defender e definir a grande causa da verdadeira Revolução;

Contribuir para formar, acima das Pátrias, a união de todas as Pátrias – uma consciência internacional bastante forte para não permitir novas lutas fratricidas;

Assegurar o respeito pelos princípios deontológicos e pela ética profissional dos jornalistas, assim como pela boa fé dos leitores.