Melhores tempos esperam-nos!

Ergue-te ó sol de Verão

Somos nós os teus cantores

Da matinal canção

Ouvem-se já os rumores

Ouvem-se já os clamores

Ouvem-se já os tambores

Do Coro da Primavera, de José Afonso

Em 1971, a menos de três anos da Revolução de Abril, José Afonso já ouvia os tambores.

Também hoje, nós, 50 anos após o 25 de Abril, ouvimos tambores, mas não os de que falava o Zeca. Outros tambores se ouvem – e o seu zumbido cresce – mas portadores de outra mensagem, oposta à que os tambores do Zeca transportavam.

Mas melhores tempos nos esperam, se não ficarmos parados à espera que no-los deponham aos pés.

A história não se repete. Como diz o nosso grande Camões, «… tomando sempre novas qualidades».

É mesmo isso: novas qualidades, que resultam da capacidade natural do ser humano de criar novas ideias, novas formas, novos processos, novas estratégias para fazer que os ideais nobres, os valores, os princípios que habitam os seus corações voltem a ganhar vigor e se imponham mais fortes ainda para tomar o leme desta nave hoje tão mal governada.

É preciso saber reconhecer o mal, sem qualquer receio, para lutar mais firmemente contra ele, para começar uma e outra vez desde o princípio; em todos os domínios da nossa edificação teremos ainda de começar repetidas vezes do princípio, corrigindo aquilo que não está acabado, escolhendo diversos caminhos para abordar a tarefa.

V. I. Lénine, 21 de Abril de 1921

123 anos depois o mundo mudou muito. Novas descobertas da Ciência, novas máquinas, novas possibilidades de resolver os mais complexos problemas, novos problemas.

Novos problemas – a degradação ambiental, os refugiados das guerras e da intolerância – mas também novas soluções e maior capacidade de as gerar.

Persiste, no entanto, mais acentuada ainda, a exploração do homem pelo homem, a vertigem do poder, a ambição sem limites, a manipulação, que utilizando todos os recursos que as conquistas científicas lhe proporcionam só recuarão se pela frente encontrarem a força dum povo unido, consciente da sua razão, da sua força, da legitimidade da sua luta.

Então, ouviremos outra vez os tambores.

Melhores tempos esperam-nos!